Arno Kunzler
Estamos em choque
Não parece que estamos vivendo tempos normais.
Pelas mortes e pela falta de cuidado que temos com as vidas, mais parece que estamos em guerra contra nós mesmos.
Mal nos damos conta que mais de 300 pessoas morreram soterradas com o rompimento da barragem de Brumadinho (MG).
Gente trabalhando, gente almoçando, gente descansando em suas casas, gente chegando ao trabalho e gente saindo…
Pessoas que viveram sem se dar conta do perigo que estava logo acima, armazenado numa barragem insegura e certamente malcuidada.
Para essas famílias, o mundo literalmente desabou.
Nem contamos as mortes de Brumadinho, vem uma tromba d’água e mata seis e deixa desesperadas centenas de famílias nas encostas da bela cidade do Rio de Janeiro. Bela e tão malcuidada quanto a barragem de Brumadinho…
Pessoas que não se davam conta do que uma simples chuva causaria para eles e seus familiares.
Mas o pior ainda estava por vir, na noite seguinte, dez meninos que treinavam nas categorias de base do Flamengo tiveram suas carreiras e suas vidas ceifadas por um incêndio sem explicação.
Inacreditável que centenas de jovens, atletas promissores do clube, vivessem numa situação tão desconfortável e insegura sem que ninguém do clube ou autoridade se desse conta da tragédia iminente.
E é bom que se diga, um lugar tão malcuidado quanto a barragem de Brumadinho…
Domingo (10) de manhã, quatro jovens retornavam para Pato Bragado quando o Fiat Uno em que estavam bateu de frente num caminhão, num lugar onde a estrada é boa e a visibilidade confortável. Dois deles morreram no local.
Segunda-feira (11) o Brasil levou mais um susto, morreu um dos melhores e maiores jornalistas em atividade no país junto com piloto e acompanhante.
Ricardo Boechat viajava de helicóptero, que tentou pousar na rodovia e bateu de frente com um caminhão. Um acidente tão estranho quanto as demais tragédias.
Como podemos ver, não é preciso morar abaixo de uma barragem, nem na encosta de um morro, nem morar num alojamento. Basta estar vivo, dormindo, andando de carro, ou de helicóptero.
Será que perdemos a noção do quanto vale uma vida?
Será que estamos cuidando direito das pessoas, aquelas as quais dependem de nossos cuidados e prudência?
Será que estamos perdendo a noção de que uma vida vale muito mais do que qualquer coisa que possamos conquistar, ter ou querer?
Simplesmente não é possível dizer que essas são fatalidades, pelo contrário, são todos acidentes evitáveis.
Pensemos nisso.
O autor é jornalista e diretor do Jornal O Presente e da Editora Amigos da Natureza