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Elio Migliorança

Estamos todos na fila

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Desde os primórdios da história, a única certeza é de que um dia partiremos deste mundo para o misterioso além, tema de incontáveis debates e reflexões, que nos deixam uma única certeza: os mortos não voltam. Não é o caso de entrar no mérito das crenças religiosas, pois cada um tem a sua, que de uma forma ou outra possui uma explicação para o pós-morte. Em nossa região, a cada dia somos surpreendidos por novas mortes e isto tem motivado acaloradas discussões sobre se havia ou não um jeito de evitar que a pandemia tivesse enlutado tantas famílias e comunidades.

O que estamos descobrindo é que o vírus escreve uma história em cada organismo onde se instala. Alguns sentem desconfortos leves e logo voltam às suas atividades. Outros enfrentam uma dura batalha, passam uma temporada hospitalizados, mas conseguem vencer os obstáculos e assim a vida continua.

Há outros que mesmo tendo as melhores equipes médicas ao seu dispor, não possuem nova oportunidade e a vida chega ao ponto final.

Discutir como o vírus entrou na história ou como age em cada organismo não nos levará a nenhuma conclusão. O certo é que todos estamos nesta fila. E nem só de Covid-19 se morre. A morte prematura do prefeito Bruno Covas e de tantas outras pessoas da região por outras doenças nos levam a refletir sobre isso. Em que ponto da fila eu estou?

Pela lei natural da vida, somos tentados a pensar na morte muito além dos 80 anos, mas nem sempre esta lógica tem lógica. Há doenças que não dependem de nós. Mas Covid-19 e mortes nos trânsito são consequência direta das nossas atitudes. A cada dia há uma multidão que resolve furar a fila arriscando sua vida e a dos outros nas estradas do Brasil, dirigindo perigosamente. Os noticiários nos finais de semana mostram este resultado trágico. Não tomar os cuidados para se proteger e proteger os demais da contaminação pela Covid-19 também é uma verdadeira roleta russa que pode ter um desfecho mortal. Cabe a cada um refletir sobre o número de vezes que já se arriscou a ir para a ponta da fila.

E diante desta realidade, admitindo que nossa segurança está muito fragilizada, é oportuno pensar sobre: o que deixaremos neste mundo para os que ficarem? Ao partirmos, como queremos ser lembrados em nossa família e na comunidade em que vivemos?

Bruno Covas escreveu uma carta, dois dias antes de morrer, uma morte anunciada e da qual ele tinha conhecimento. Nesta carta, uma frase marcante: “Eu gostaria de ser lembrado por aquilo que me motiva a fazer política, que é mudar a vida dos que mais precisam”.

Que frase você escreveria se estivesse na mesma condição? Pois bem, mesmo que você não escreva nada, sua vida é o livro que os outros leem. Suas atitudes são pedagógicas e ensinam muito mais que seus discursos. Há muita grandeza nas pessoas que, mesmo vivendo uma vida aparentemente comum, foram grandiosas no cumprimento das suas obrigações, dos seus deveres e da sua responsabilidade familiar, profissional e social.

Não é necessário ocupar altos cargos, possuir muito dinheiro ou ganhar títulos de honra. O maior título é chegar na ponta da fila e no momento da partida olhar para trás e poder dizer: fiz o que estava ao meu alcance, cumpri minha missão com dignidade e nada mais do que isso é necessário para receber o título de cidadão honorário deste mundo.

 

O autor é empresário rural, professor aposentado e ex-prefeito de Nova Santa Rosa

miglioranza@opcaonet.com.br

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