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Dom João Carlos Seneme

Este é o meu Filho amado, escutai-o

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Todos os anos, no 2º Domingo da Quaresma, lemos e refletimos sobre acontecimento da transfiguração de Jesus diante dos discípulos. A transformação luminosa de Jesus diante de seus discípulos, no caminho de Jerusalém e da paixão, é como um respiro que se concede a Jesus para se colocar em comunicação com o mais profundo do seu ser e de sua obediência a Deus.

Poderíamos dizer que Jesus faz a leitura de sua obediência a Deus para levar adiante o plano de salvação para a humanidade. Neste momento o homem-profeta da Galileia tem necessidade de confirmar seu propósito, uma vez que o caminho já está traçado: a salvação deverá passar pela cruz.

Há sinais de rejeição a suas palavras, os discípulos começam a sentir medo. Neste momento Jesus sente que precisa da proximidade com o Pai, por isso a importância da oração, espaço para perguntas e respostas: Moisés e Elias, representantes qualificados do Antigo Testamento, conversando com Jesus e revelando que agora é Jesus quem revela Deus e seu reino. E a voz do Pai confirmando a missão de Jesus: “Este é o meu Filho amado, o meu predileto. Escutai-o”.

Os discípulos não compreendem tudo o que acontece, somente sentem que é um momento de paz e a única coisa que querem é ficar ali: “Senhor, como se está bem aqui! Vamos armar tendas”.

Mas a humanidade se encontra na planície, no concreto da vida, e ela precisa deles. Os discípulos devem acompanhar Jesus, fazer com Ele o caminho de Jerusalém, porque um dia serão eles que anunciarão a todos a salvação que se encontra na adesão a Jesus Cristo. O importante é que agora eles têm certeza do amor de Deus.

O relato da transfiguração é colocado no período da Quaresma para mostrar a necessidade da busca de Deus que se encontra na contemplação e na oração. É só assim que será possível enfrentar os desafios da vida de cada dia: a experiência de Deus na oração sustentará a missão dos discípulos de anunciar a todos quando Jesus ressuscitar dos mortos. Também nós devemos aprender com o evangelho: devemos subir ao monte da transfiguração para, depois, descer à planície trazendo luz para iluminar a vida.

A transfiguração é uma antecipação, prefiguração, um anúncio momentâneo do que será a ressurreição: Jesus revela sua verdadeira identidade como Filho de Deus. Coloca como o sonho de Deus o seu reino: a mensagem de vida e liberdade da boa nova são reais e possíveis. Jesus mostra também que todo ser humano é vocacionado a viver esta vida de plenitude que se realiza no seguimento de Jesus e na vida colocada a serviço de todos como dom, cuidado e libertação.

Finalmente, Jesus se aproxima dos discípulos e diz: “Levantai-vos, não temais”! É um convite para colocar em prática, no cotidiano da vida, o que diz o papa Francisco: uma vida em chave missionária, sair de si e ir ao encontro dos outros.

Sair da própria terra na Quaresma poderia significar deixar para trás o que fazemos sempre do mesmo jeito, que já é conhecido e nos arriscar em deixar que Deus nos conduza na busca de um mundo melhor, marcado por relações fraternas.

A Igreja, servidora do Deus da vida, fundada em Jesus Cristo, acredita sempre no advento de uma nova era, marcada pelo amor e valorização da vida. A Campanha da Fraternidade 2020, retomando o tema da vida, chama a atenção para a cultura de morte que se implanta entre nós. Recorda que a indiferença é um pecado e que precisamos trabalhar para nos importar com os outros. A compaixão é o antídoto da indiferença (Dom Joel Portella Amado).

 

O autor é bispo da Diocese de Toledo

revistacristorei@diocesetoledo.org

 

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