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Dom João Carlos Seneme

“Este é o meu Filho muito amado, Escutai-o”

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Neste fim de semana, chegamos ao 2º Domingo da Quaresma e a liturgia nos propõe a passagem da transfiguração de Jesus através do Evangelho de São Marcos (Mc 9,2-10). A comunidade de Jesus passa por um momento difícil: dúvidas, desalento, medo. Por isso, Jesus sobe à montanha com três dos seus apóstolos mais próximos e lhes possibilita uma experiência mística: manifesta-se diante deles revelando a sua íntima e profunda união com o Pai e o Pai o confirma como Filho e revelador do seu amor e o confirma na missão que deverá passar pela paixão, morte e ressurreição. Jesus, diante de seu próprio caminho e da possibilidade de sua morte, faz com que seus seguidores experimentem o seu jeito de compreender a vontade do Pai e sua total adesão a ela. Representantes do Antigo Testamento, Moisés e Elias, confirmam a missão de Jesus. Os discípulos compreendem com muita dificuldade o que está acontecendo (a compreensão plena virá na Ressurreição), de modo que não querem deixar aquele lugar: ali tudo é harmonioso, a planície é assustadora.

A transfiguração é um acontecimento vital na vida de Jesus, uma revelação provisória do seu mistério e missão para três testemunhas privilegiadas, uma antecipação da ressurreição. Uma maneira de dar forças aos seguidores de não temer o que está para acontecer: para chegar à ressurreição será necessário passar pela cruz. Este acontecimento também revela a Jesus que ele não está sozinho, o Pai e o Espírito Santo o acompanham sempre, por isso o Pai revela que Ele age em Jesus (“Este é o meu Filho Amado”).

A palavra chave vem do Pai: “Escutai o que Ele diz”. É preciso escutar Jesus, pois sua mensagem revela o mistério de Deus: o plano salvador para toda a humanidade. O desconcerto de Pedro diante do mistério deve ser vencido pela escuta do Filho muito amado de Deus. A resposta de Pedro mostra que ele interpreta esta experiência de modo equivocado. Ele quer reter esta experiência como se o Reino já estivesse realizado (“Façamos três tendas”), ou seja, vamos ficar aqui e abandonar tudo, aqui tudo é bonito! Este é o risco que todos nós corremos diante dos desafios da missão, ele revela uma fé imperfeita e egoísta. Por isso o apelo do Pai: escutar Jesus, segui-lo de perto e participar da construção do Reino de Deus. A transfiguração de Jesus nos ajuda a compreender que aquele que vai sofrer a paixão e ser glorificado é o Filho de Deus que se encarnou para a nossa salvação. O que sustenta nossa vocação cristã, o que sustenta nossa fé é a graça da ressurreição do Senhor. O Senhor, ressuscitado dos mortos, venceu o mal e a morte.

A Campanha da Fraternidade 2015, com o tema “Fraternidade: igreja e sociedade”, nos recorda não que não podemos assumir uma posição pessimista diante das dificuldades presentes, nem uma posição meramente reativa ou pior, de resistência e isolamento. Todos os cristãos são convocados a unir forças com os homens e mulheres de boa vontade que buscam um mundo melhor, mais humano, sem guerras e conflitos (texto base CF, n. 109). O papa Francisco nos diz: “Nós, cristãos, insistimos a proposta de reconhecer o outro, de curar feridas as feridas, de construir pontes, de estreitar laços e de nos ajudarmos a carregar os fardos uns dos outros” (Evangelii Gaudium, n. 67).

Este é o nosso destino: irradiar a luz resplandecente do Cristo transfigurado, ser estrelas que irradiam sua luz e sua beleza. Por isso nos acompanha a palavra de Jesus: “convertei-vos e crede na Boa Nova”.

 

* O autor é bispo da Diocese de Toledo

 

revistacristorei@diocesetoledo.org

 

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