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Elio Migliorança

Estrelismo, competência e consequências

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Passada a Páscoa e as reflexões sobre os mistérios da paixão e morte de Cristo, tema relevante para os cristãos, mas que repercute na vida de todos já que o feriadão é aproveitado mesmo por aqueles que não estão ligados a uma crença religiosa, é o momento de abrir a janela da realidade, colocar os pés no chão e saber que a vida segue seu rumo.

Aproveitando o momento e o clima religioso, dois ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) resolveram agradar a torcida com decisões que podem ser mortais para muitos incautos e desavisados. Duas decisões antagônicas escancararam a divergência ruinosa que reina no STF. O ministro Kassio Nunes Marques liberou a realização de cultos e missas em Minas Gerais, solicitando inclusive à Polícia Federal o apoio no cumprimento da medida. Por outro lado, o ministro Gilmar Mendes proibiu a realização de celebrações no Estado de São Paulo.

Sem querer ofender o folclore brasileiro, ouso afirmar que isso parece um “samba do crioulo doido”. Esta expressão é usada no Brasil para se referir a coisas sem sentido, a fatos mirabolantes e sem nexo. Estrelismo ou vedetismo puro, jogando para a parcela da população que apoia esta ou aquela facção política ou ideológica, e que só acontece no Brasil como consequência da politização da Suprema Corte. Um estrelismo com consequências imprevisíveis, já que, segundo a Organização Mundial da Saúde, os ambientes com maiores riscos de infecção são o transporte público, os shows, as celebrações e os hospitais. Como característica comum é que todos acontecem em ambientes fechados.

A questão não se resume a ser a favor de um ou de outro, já que as decisões foram opostas. A questão é que no STF as decisões não deveriam ter origem na cabeça do ministro e, sim, serem fundamentadas na Constituição, que, sendo uma só, pressupõe decisões iguais independente da ideologia ou crença do ministro.

Por outro lado, milhares de brasileiros, selecionados de cima para baixo, festejam a chegada da vacina. No passado jamais podíamos imaginar que a chegada de uma vacina pudesse ser motivo para tantas comemorações e publicações nas redes sociais. E aí não podemos deixar de valorizar e parabenizar a eficiência dos pesquisadores que desenvolveram o medicamento e o Instituto Butantan, orgulho nacional na produção de vacinas há mais de um século e hoje em destaque na produção do imunizante que está sendo aplicado pelo não menos eficiente sistema de vacinação existente no Brasil.

Enquanto o estrelismo daqueles ministros do STF pode matar por permitir e, de certa forma, induzir à aglomeração, a eficiência na produção e aplicação da vacina vai com certeza salvar muitas vidas e permitir que seja dado mais um passo na direção da vida normal, algo que já tivemos e que agora descobrimos o quanto algo comum era importante para o nosso equilíbrio em todos os sentidos. São as consequências, a que se refere o título deste artigo, que tanto podem matar como salvar, dependendo de que lado nos colocamos. A lição que tiramos disso é que nossas atitudes sempre possuem, em maior ou menor grau, consequências, por isso é inteligente e importante avaliarmos nossas atitudes, pois elas em maior ou menor grau induzem os outros a segui-las, e isso pode fazer toda a diferença. Pense nisso e decida qual caminho seguir.

 

O autor é professor em Nova Santa Rosa

miglioranza@opcaonet.com.br

 

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