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Dom João Carlos Seneme

Eu não quero a morte do pecador e sim que ele se converta e viva

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Neste domingo (27) continuamos sobre o tema da oração que se relaciona com a salvação. Qual o caminho que conduz à salvação? Jesus acentua que a salvação não é consequência da observância, mas é um dom de Deus que exige somente de nós a fé.

Jesus inicia o Evangelho colocando o sentido da parábola: é para aqueles que confiavam na sua própria justiça e desprezavam os outros. Mais uma vez temos personagens diferentes e distantes entre si; os dois vão ao templo para rezar. O fariseu se revela um observante escrupuloso da lei e das regras da oração israelita: deve ser feita em pé, em voz baixa e elevando a Deus uma oração de ação de graças. Portanto, é uma oração leal, sincera e humilde, de modo que Jesus não condena o modo de rezar do fariseu. Porém, ele comete um deslize que põe tudo a perder: é quando se coloca como juiz comparando-se com os outros: “Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros, nem como este publicano”. Mais do que rezar, ele faz uma contemplação de si mesmo. Conta sua história cheia de méritos, colocando-se superior aos outros. Para ele, a oração não é um encontro com Deus. Ele sai do templo do mesmo jeito que entrou.

O outro personagem é um publicano que exercia o trabalho de cobrar impostos, considerado aliado dos opressores, os romanos, e explorava os pobres, aumentando, de forma abusiva, os impostos e lucrando com isso. Os cobradores de impostos eram odiados e considerados pecadores da pior espécie. A sua postura demonstra o sentimento que carrega: fica a distância, não levanta os olhos, bate no peito e pede o perdão de Deus porque é um pecador. É uma oração de súplica, de desespero.

Os dois homens unidos pelo mesmo desejo: rezar, encontrar-se com Deus. Contudo, cada um tem a própria imagem de Deus e seu modo de relacionar-se com Ele. O fariseu destaca-se pela observância dos mandamentos e se orgulha disso. Para ele, o importante é estar em ordem com Deus e ser mais observante do que todos. O publicano, pelo contrário, abre-se ao Deus do amor revelado por Jesus: aprendeu a viver do perdão, sem vangloriar-se de nada e sem condenar ninguém. Saiu dali justificado porque conseguiu acolher o amor de Deus. É a oração do pobre que confia totalmente em Deus.

A parábola revela muito de cada um de nós: nós somos aqueles dois homens; um e outro ao mesmo tempo, porque, como o publicano, somos pecadores e, como o fariseu, nos julgamos justos. Para voltarmos para casa justificados é necessário acreditar que a justiça vem pela fé, é dom de Deus, e é professando que se chega à salvação (cf. Rm 10, 10). Cremos e professamos com toda a força que tu és o Deus vivo que nos salvou em Jesus Cristo!

A consciência de nossos pecados não nos separa de Deus. É justamente neste momento que Ele entra em nossa vida, porque estamos mais frágeis, deixando o ego de lado e querendo ser plenificados por Deus. Ao assumir que somos pecadores acolhemos com mais misericórdia os pecados de nossos irmãos e irmãos, pecadores como nós. Deus quer nos curar, Ele não vê o pecado como ofensa contra si. Ele nos vê como pessoas que precisam ser curados. Quem se fere com o pecado é o próprio pecador e não Deus.

 

O autor é bispo da Diocese de Toledo

revistacristorei@diocesetoledo.org

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