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Dom João Carlos Seneme

Eu sou o caminho, a verdade e a vida

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A leitura do Evangelho deste domingo (18) faz parte do discurso de despedida da última ceia e reflete as preocupações dos discípulos devido à partida (= morte) de Jesus, que aconteceria em seguida. A leitura deste Evangelho no contexto da Páscoa nos convida a refletir sobre a “partida” de Jesus ressuscitado no momento de sua ascensão e volta ao Pai. Os discípulos ficam apreensivos e preocupados: “O que faremos sem ele? Como vamos conseguir dar continuidade à obra de Jesus sem a sua presença nos confortando, ensinando?”. São questões que ainda hoje fazemos em nossas comunidades. Por isso, Jesus inicia o Evangelho fazendo um convite à fé: “Credes em Deus, crede também em mim”. A falta de fé fez e faz o discípulo abandonar o Senhor e a comunidade. É a fé que permite ver um sentido novo em todas as coisas e acontecimentos.
Os discípulos estão cientes de que Jesus está prestes a deixá-los. Há um ar pesado de tristeza e ansiedade; os inimigos de Jesus estão à espreita. “Não se perturbe o vosso coração” são as palavras de incentivo que Jesus dirige a eles. “Credes em Deus, crede também em mim” é um chamado à fé total no Pai e em Jesus. Confiar em Deus significa aceitar e enfrentar a realidade. Isso significa lidar com nossos problemas, sabendo que, mesmo nas situações mais difíceis, Deus não nos abandonará. Rezar como se tudo dependesse de Deus e trabalhar como se tudo dependesse de mim (Santo Inácio de Loyola). A passagem também lhes assegura que Jesus vai voltar para levar seus seguidores com Ele. A partida de Jesus é apresentada não como uma perda, mas como uma preparação para o futuro. A expressão “na casa de meu Pai há muitas moradas” sugere que há lugares para todos diante de Deus.
Jesus conviveu com eles por três anos e eles o viram ensinar, conversar e acolher as pessoas. Por isso ele fala: “vocês sabem o caminho aonde eu vou”. Tomé, com seu senso realista e prático de sempre, protesta: “Senhor, não sabemos para onde vais, então, como podemos saber o caminho?”. Ele está claramente pensando em termos geográficos. A resposta de Jesus é desafiadora: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”. Para chegar ao Pai é necessário seguir os passos de Jesus: amar como ele amou o Pai e a humanidade. Jesus se oferece como o caminho que devemos percorrer para entrar no mistério de Deus Pai. Só Ele pode desvendar o mistério último da vida. Ele pode comunicar-nos a vida plena pela qual tanto anseia o coração humano.
Através dos diálogos, o evangelista São João revela a missão de Jesus e a dificuldade que os discípulos têm para compreendê-la. A compreensão plena só virá com o Espírito Santo em Pentecostes. Agora é a vez de Filipe se manifestar: “Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta”. A resposta de Jesus revela que Ele é o Filho querido do Pai: “Quem me viu, viu o Pai”. A vida de Jesus, sua bondade, sua liberdade para fazer o bem, sua capacidade de perdoar, seu amor pelos pobres revelam o amor do Pai: “Eu e o Pai somos um”. “O Pai que está em mim realiza suas próprias obras”.
Por fim, Jesus tem uma palavra também para nós. Sua volta ao Pai implica em colocar nas mãos dos discípulos a continuidade de sua missão. Também nós somos enviados em missão para continuar a obra de Jesus: fazer com que a Igreja se “pareça” com Jesus que é o caminho, a verdade e a vida. Esta é a boa nova para nós hoje.

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