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Elio Migliorança

FANTOCHES DO CONSUMO

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Nesta época de crise, em que o bom senso indica cautela e severo controle de despesas, a manutenção do emprego e renda depende da “irracionalidade” dos consumidores. Sim, porque a decisão mais sensata neste momento seria o de planejar de maneira econômica o consumo e conter gastos, evitando assim o descontrole e a inadimplência. Contudo, o que alimenta o giro econômico não se fundamenta nisso, e sim na compulsão consumidora dos clientes, pois para que a roda da economia continue a gerar lucros, ela precisa ser alimentada infinitamente através do consumo daquilo que é produzido.
Neste sentido, o escritor Zygmunt Bauman, autor do livro “Vida para Consumo – a transformação das pessoas em mercadoria”, Editora Jorge Zahar- 2007, consegue chegar ao ponto central da questão. O consumidor precisa ser ludibriado. Isso mesmo. É necessário criar uma necessidade, mas que não satisfaça completamente, ou melhor, uma necessidade com prazo de validade determinado. Aquilo que gera satisfação hoje não pode ser permanente. Num curto espaço de tempo é necessário colocar novas aspirações na cabeça do consumidor, fazê-lo sonhar com novos produtos, fazê-lo acreditar que aquilo sim é o supra-sumo da felicidade e assim induzi-lo a comprar novamente, mantendo assim em permanente movimento a roda da produção e consumo, tendo como gratificação a sensação de estar contribuindo com a manutenção do emprego das pessoas porque, enquanto você consome, alguém trabalha para produzir. É a desculpa do fumante que justifica o ato de fumar pelo alto valor dos impostos cobrados sobre os cigarros, em torno de 70%, imposto que, segundo o governo, é aplicado em benefício da população, e assim o fumante seria um grande filantropo, por ser desta forma um contribuinte com as obras sociais do governo.
Segundo Bauman, “a sociedade de consumo prospera enquanto consegue tornar perpétua a não satisfação de seus membros, e assim, em seus próprios termos, a infelicidade deles. O método explícito de atingir tal efeito é depreciar e desvalorizar os produtos de consumo logo depois de terem sido promovidos no universo dos desejos dos consumidores. As promessas já feitas devem ser rotineiramente quebradas e as promessas de realização frustradas com regularidade. Cada uma das promessas deve ser enganadora, ou ao menos exagerada. Do contrário, a busca acaba ou o ardor com que é feita cai abaixo do nível necessário para manter a circulação de mercadorias entre as linhas de montagem, as lojas e as latas de lixo”. É o retrato da psicologia e estratégia dos esquemas de marketing para influenciar as pessoas a consumir e descartar, consumir e descartar indefinidamente.
Se foi aquele tempo em que você comprava um terno de boa casimira e o utilizava em todos os eventos importantes de sua vida. Você comprava um carro que era herdado por seu filho. Vivemos a sociedade dos produtos descartáveis. Isso gera necessidades novas, para alimentar isso precisamos ganhar cada vez mais, sobrando cada vez menos tempo, aumenta o estresse e com isso morremos antes, vítimas da velocidade que imprimimos em nossa vida.

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