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Arno Kunzler

Francisco a la João Paulo

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Somente na era televisiva foi possível mostrar o quanto o povo católico presta idolatria a seu papa. Durante séculos isso não foi possível, exceto em situações raras e de proporções menores.
João Paulo II iniciou uma nova fase, foi ao encontro do povo e com seu carisma conquistou a simpatia dos católicos de todo mundo e não católicos de muitos lugares.
Até então um fenômeno jamais visto, uma idolatria que não seria possível sem a televisão sem essa mobilização do povo nas ruas.
Fato que Joseph Ratzinger não conseguiu repetir durante o seu papado. Não que não tivesse sido exposto à apreciação pública, mas nem seus gestos nem suas palavras empolgaram os católicos a ponto de reverenciá-lo de forma tão carismática.
Talvez nem o papa Francisco imaginasse que um dia um argentino fosse reverenciado dessa forma no Brasil, e pelos brasileiros.
Mas é notório que se trata de um papa com enorme carisma. Sua fala mansa e seus gestos deliberadamente e insistentemente apontando para ações humildes lhe colocam nos braços do povo.
Mesmo se expondo ao perigo, mesmo sendo criticado por muitos, ele insiste em se aproximar do povo, sentir a presença do povo, ver as pessoas de perto e demonstrar com gestos cuidadosamente elaborados sua simpatia pelas crianças.
É um papa muito popular e vai fazer uma enorme diferença, especialmente nos países onde a população gosta de se aproximar do seu líder maior da igreja e nutre apreço ao mais humilde, tão bem interpretado pelo papa Francisco.
O papa, afinal, mesmo sendo ele uma pessoa, representa algo superior, uma aura do além.
A impressão que as pessoas, especialmente as católicas, têm é que a benção do papa se equivale à benção do próprio Cristo.
Isso é fato. A reação das pessoas, o choro, a alegria desmedida, a correria, tudo demonstra o afeto e a dimensão que as pessoas dão ao pontífice.
Talvez muitos papas não souberam que um papa é tudo isso, os que descobriram devem ter uma sensação impressionante, algo certamente indescritível.
Para quem é idolatrado durante o dia como se fosse um Deus, quando vai deitar na cama à noite certamente pensa no que o povo espera dele.
Uma conduta correta, serena e responsável.
Ações para melhorar a imagem da igreja, acabar com a indiferença dos católicos, com o crescente afastamento.
O que deve pensar um papa quando vai deitar no final de um dia tão cheio e emocionante, quando lembra que precisa fazer algo para ascender a chama da fé em tantos corações.
Algo que pode não estar ao seu alcance, para mover a podridão que insiste em permanecer e se manifestar nas redondezas do Vaticano, atormentando os papas e muitos dirigentes da igreja.
Algo para acabar com os escândalos que escancararam a igreja em todo mundo, numa escalada sem precedentes.
Um papa inconformado com tudo isso certamente teria vontade de fazer muitas coisas, mas não pode.
Como ser humano, o papa certamente se sente aliviado quando pode passar algumas horas na companhia das pessoas na rua, sendo aplaudido e reverenciado, tocado por elas, exaltado e idolatrado como se Deus fosse.
Talvez por isso o papa insiste, contrariando teimosamente a todos, em andar próximo das pessoas, dividir com elas o mesmo espaço nas ruas e não sofrer a tentação que ataca a maioria das autoridades, o isolamento, o distanciamento e a solidão.

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