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Elio Migliorança

FUGINDO DO INFERNO

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As imagens chocantes de migrantes furando barreiras policiais, enfrentando os perigos do mar e longas travessias por desertos, montes, túneis e tudo o mais que aparece pela frente, correram o mundo nas últimas semanas e provocaram reações nos quatro cantos do mundo. Parece que já soaram as trombetas do apocalipse e os povos da terra caminham para o juízo final. Mas não é exatamente isso. O juízo final já aconteceu e centenas de milhares de migrantes já foram condenados e estão fugindo do inferno antes que esta possibilidade também lhes seja tirada. Estes migrantes arriscam sua vida para buscar a “terra prometida”, que, na verdade, ninguém lhes prometeu nada, mas eles querem viver nos chamados países de primeiro mundo, especialmente os países europeus, cujo acesso lhes é mais favorável geograficamente. E como reação natural vem o bloqueio das fronteiras dos países desenvolvidos, que não sabem como administrar uma multidão destas chegando ao país da noite para o dia.

Este fenômeno nos remete à discussão de dois pontos que considero relevantes para entender como chegamos a tal situação. O primeiro ponto é o direito de autodeterminação dos povos. Segundo o dicionário, autodeterminação dos povos é o princípio que garante ao povo de um país o direito de se autogovernar, fazer suas escolhas sem intervenção externa, ou seja o direito à soberania que é o direito das nações de determinarem seu próprio status político. Na teoria isso é lógico e parece até romântico, mas na prática não é bem assim. Observe que grande número destes migrantes buscando uma nova pátria é originário da Síria. A questão interna da Síria é muito complexa e difícil de ser compreendida, contudo, quando as tropas do ditador Bashar al-Assad apontaram suas armas para matar a população civil, qualquer um, mesmo que privado de inteligência, podia perceber que algo muito grave estava acontecendo. E neste caso a Organização das Nações Unidas, criada após a 2ª Guerra Mundial com o objetivo de criar e colocar em prática mecanismos que possibilitem a segurança internacional, desenvolvimento econômico, definição de leis internacionais, respeito aos direitos humanos e o progresso social, devia ter acionado os mecanismos de que dispõe para evitar a deterioração total do país. Talvez agindo rapidamente teria evitado esta bomba migratória que está explodindo no colo do mundo e matando muitos inocentes que não mereciam estar vivendo este pesadelo mortal.

O segundo ponto é a velha questão dos sistemas capitalista e comunista, este último muitas vezes fantasiado de socialista. Interessante observar que os fugitivos querem ir para os mais ricos países europeus, todos eles representantes do supra-sumo do capitalismo, que alguns comunistas tupiniquins reforçam a expressão como capitalismo selvagem. Oportuno também observar que ninguém quer fugir para Cuba, Venezuela ou Bolívia. Venezuela é outra bomba explodindo na América do Sul, pois a ditadura bolivariana teve toda a cobertura e apoio das autoridades brasileiras. A fatura pelo sangue derramado dos migrantes deve ser debitada na conta daqueles que se omitiram no momento que detinham o poder e nada fizeram para evitar este mal maior.

 

 

* O autor é professor em Nova Santa Rosa

 

miglioranza@opcaonet.com.br

 

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