Fale com a gente

Tarcísio Vanderlinde

Guerra dos Seis Dias: epílogo

Publicado

em

Moshe Dayan era da opinião de que a saga do retorno do povo judeu a sua antiga pátria ofuscaria todos os demais acontecimentos considerados monumentais e que ocorreram durante o século XX no mundo. Para ele, o povo judeu não simbolizava apenas a ele próprio, mas era um arquétipo contido na dimensão maior da psique do mundo. O tempo de carregar o fardo de nação em exílio chegara ao seu término.

Havia a compreensão de que na porta do exilado haviam sido assentados os males da sociedade na qual ele habitava como estranho. Para Dayan, era no exilado que estava “a maldade do coração daqueles de cujo socorro depende sua sobrevivência. Ele se torna inevitavelmente o sinistro, o conspirador, o desonesto, o traiçoeiro. Essa é a realidade de qualquer exilado em qualquer país e em qualquer século”.

O sargento Moshe Milo, operador de rádio do capitão que liderou os paraquedistas na reconquista da cidade velha, fala sobre o exílio com um toque trágico. Nele os judeus são vistos como demônios. Numa síntese chocante, procura ele mesmo responder à pergunta: onde estávamos ao logo destes séculos?

“Degredados para além-mar, dispersados na diáspora por terras de estranhos que nos odiavam – exilados, proscritos, alvo de inquisições, expurgos, pogroms. Barões e senadores das nações onde morávamos editaram leis que nos proibiam de possuir terras ou propriedades, de estudar ou de ter ofícios eruditos, de governar a nós mesmos, de casar. Montam-se ‘encenações da Paixão’ em que a agonia dos avatares que interpretam a nós é assistida com êxtase pelos fiéis. No coração desses rituais habita um demônio, e esse demônio somos nós: os judeus”.

O que Jerusalém significa para o povo judeu pode ser de verbalização simples, mas é bastante complexo. Ela pode ser considerada a mais elevada aspiração para o povo judeu, o centro da alma do povo. O historiador Steven Pressfield registra o testemunho de Milo sobre Jerusalém: “Jerusalém é aquilo que tanto se almeja, se sonha, pelo que se reza e, ainda assim, é algo que você acredita que nunca vai ver nem tocar. Por dois mil anos, este lugar tem estado sob controle alheio. Babilônios, persas, romanos, asmoneus, bizantinos, muçulmanos, cruzados, mamelucos, otomanos, britânicos – por dois milênios eles governaram esta Capital, que é sagrada para nossa nação”.

A Guerra dos Seis Dias (05 a 10 de junho de 1967) começou tendo como alvo as bases aéreas do Egito, Jordânia e Síria, mas acabou sendo direcionada para a milenar Jerusalém. Revelou a figura de Moshe Dayan como o grande estrategista do conflito. A maioria dos peregrinos que hoje chega ao Muro das Lamentações desconhece a história recente daquele ambiente.

Independente da crença, ou de quantos preconceitos carregar, cada um poderá ali, se quiser, fazer suas preces ou escrever num papel suas intenções e deixar numa fresta do muro. Se não tiver chapéu, é sugerido gentilmente que se use um Kipá branco que é distribuído gratuitamente aos peregrinos no local. Trouxe o meu de lembrança.

 

O autor é professor na Unioeste

tarcisiovanderlinde@gmail.com

 

 

Continue Lendo

Copyright © 2017 O Presente