Fale com a gente

Silvana Nardello Nasihgil

Hora da retrospectiva

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E o ano está quase no fim. Um ano do qual a gente não sabe nem o que falar. Um ano em que as nossas vidas ficaram em uma bolha, em que a desesperança e as incertezas foram os sentimentos mais frequentes. Foi difícil? Foi! E ainda está sendo.

Então, dentre tantas dificuldades, o que foi que a gente fez? Qual foi o plano B?

Muita gente escolheu sofrer e se lamentar. As redes sociais nunca estiveram tão cheias de tragédias, queixas, agressões, julgamentos, achismos, cientistas políticos e médicos.

Em contrapartida, vi gente se reinventando de um jeito lindo, descobrindo habilidades e deixando os dons florescerem. Gente que descobriu forças de onde nunca imaginou existir e está escrevendo uma nova história.

Pela proximidade do fim do ano, é hora de fazermos uma retrospectiva sobre as nossas vidas e o que nos permitimos viver.

É hora de olharmos para as atitudes que tivemos e nos questionarmos:

O que daquilo que aconteceu com nas nossas vidas foi escolha nossa?

Quanto do nosso tempo passamos discutindo e lamentando, sem tomarmos atitude?

O que foi feito da nossa família? Como administramos a atenção, o carinho, o cuidado e o amor?

Qual a importância tiveram nossos amigos que precisaram estar longe fisicamente?

O que foi feito da nossa sexualidade? Com que responsabilidade entregamos o mais íntimo de nós?

Quanto temos nos preocupado com o bem-estar e o respeito pelo bem-estar dos outros?

Esses questionamentos, e muitos outros, são necessários para que cada um possa se ver dentro das suas particularidades. Precisamos saber para onde queremos ir e se o caminho que estamos seguindo nos levará até o destino escolhido.

Este ano em particular moveu muitas coisas dentro de nós que desconhecíamos. Muitas saíram de controle, e uma delas foi a sexualidade. Vivida por muitos sem o mínimo de responsabilidade em um ano que deveria ser de distanciamento social, foi muito forte na presença de atitudes irracionais e irresponsáveis para suprir espaços de carência.

Pode parecer estranho, mas a sexualidade nunca esteve tão em alta. Talvez pela disponibilidade de tempo, os pensamentos e as fantasias criaram asas mais longas que normalmente, e muitos voaram para o desconhecido, brincaram de vida e irresponsavelmente criaram para si um comportamento que adicionou às dificuldades da vida perigos, angústias, culpas e os mais diversos sentimentos negativos.

Muitos estão “acasalando” sem sequer saber a razão de tal atitude, usando instintos e abandonando o direito de fazer escolhas.

Faço esse parênteses porque creio que não podemos sair distribuindo por aí, compartilhando por aí, sem endereço, sem critério algum, a nossa intimidade, como se fosse um copo d’água que tem em qualquer lugar. Ressalto a falta de responsabilidade com a sexualidade porque sinto que aqui está um descompasso muito recorrente, muito potencializado nesse período, que tem trazido consigo muito mal-estar, muitas culpas, sofrimentos emocionais e psíquicos que poderiam ter sido evitados.

Eu teria muito para falar, mas creio não ser necessário. O objetivo é chamar para uma reflexão sobre a vida, sobre as nossas atitudes para assim podermos fazer escolhas mais conscientes.

Não podemos esperar tudo se desfazer para só depois pensarmos a respeito. Muito do que nos permitimos viver poderia ser evitado se aprendêssemos a usar nosso cérebro a nosso favor. Medir consequências deveria vir antes de tomarmos atitudes, então, sem dúvida, teríamos infinitamente menos a lamentar.

 

Silvana Nardello Nasihgil é psicóloga clínica com formação em terapia de casal e familiar (CRP – 08/21393)

silnn.adv@gmail.com

 

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