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Elio Migliorança

HORA DE PARAR

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O ser humano é um “bicho” complicado. Predador incorrigível dos recursos naturais consegue provocar transformações irreversíveis nos ambientes onde se instala. Cá estamos nós no planeta terra debatendo as modificações resultantes do progresso que buscamos freneticamente. E parece que o nosso coração é insaciável. Nem bem conseguimos uma conquista e logo partimos para um desafio maior. Observe o momento da colheita que vivemos nesta região. Os números são impressionantes. Fala-se de 180 e até 210 sacos de soja por alqueire. Antigamente se festejava quando conseguíamos 100 sacos/alqueire. Do milho fala-se em 500 ou até 600 sacos por alqueire. No passado era festa garantida quando a marca de 300 sacos/alqueire era alcançada. E assim funciona em todas as esferas de produção. As linhas de produção cada vez mais velozes, com cada vez menos custo, exigindo um esforço maior dos responsáveis. Na área da eletrônica então o progresso é assustador. Só os bem esforçados conseguem estar mais ou menos atualizados. Mesmo os que não conseguem acompanhar, encantam-se com o conforto proporcionado pela tecnologia. E assim, sem perceber, vamos nos acomodando, precisando menos esforço, com isso o colesterol aumenta, os triglicerídeos vão às alturas, a obesidade deixa a pele esticada e só com muita luta conseguiremos sair deste círculo vicioso.
Nada contra o progresso, afinal é ele que nos proporciona tantas possibilidades, inimagináveis há 20 anos. Como, por exemplo, conversar com um amigo do outro lado do mundo via skype em tempo real com som e imagem instantâneos. Nesta altura dos acontecimentos e considerando as infinitas variáveis que esta área apresenta, a pergunta mais difícil para o ser humano responder é: qual é a hora de parar? De pedir sua aposentadoria e sair de cena? Até quando permanecer ativo, sabendo que há dezenas ou talvez centenas esperando o teu lugar? Consegue o ser humano aceitar com naturalidade que a sua vida está indo da meia tarde para o anoitecer? Que fazer para que essa desaceleração de atividades não comprometa uma velhice com qualidade de vida e dignidade?
Há um risco sério e real de os mais jovens começarem a considerar os mais velhos um estorvo. Considerando que a saúde é “prioridade um” para todos, que estrutura de apoio e assistência os governos das três esferas do poder possuem para garantir isso aos nossos idosos? Esquisito é que muitas pessoas acreditam que se elas pararem o mundo entra em colapso. Não, meu caro leitor. O cemitério está cheio de insubstituíveis. E o trabalho de cada um era tal que, com o qual ou sem o qual o mundo continuou tal e qual.
O fim de alguém será sentido por um certo tempo, mas o próprio tempo se encarregará de preencher aquele espaço com outros sentimentos e acontecimentos que depois de certo tempo você será apenas uma doce e distante lembrança que aos poucos se extinguirá totalmente. Melhor seria nem pensar nisso, mas no início de cada ano a gente acorda e percebe que a carruagem da vida anda cada vez mais rápido. Melhor pensar do que ser pego de surpresa. Ter consciência desta lei da natureza válida para todo o mundo animal ajudará a aceitar-se quando chegar o começo do fim.

* O autor é professor em Nova Santa Rosa
miglioranza@opcaonet.com.br

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