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Arno Kunzler

Hora do Judiciário

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A população nas ruas dá sinais de intolerância contra a incapacidade dos seus representantes, especialmente no Poder Legislativo e no Poder Executivo de oferecer respostas aos seus anseios.
Sem temer represálias, o povo brasileiro sacudiu algumas instituições e fez valer a pressão que costuma resultar em ações imediatas, mas não em soluções definitivas.
Assim, os políticos, tanto do governo federal como dos governos estaduais e municipais, imediatamente atenderam algumas demandas, como manter ou baixar preços das passagens do transporte coletivo, votar contra a PEC 37 (chamada da impunidade, que previa excluir o Ministério Público das investigações criminais) e até a presidenta Dilma anunciar precipitadamente um plebiscito para reforma eleitoral.
Claro, quase tudo é “balela”, porque os políticos, especialmente os de Brasília, sempre apostaram no esquecimento.
Ocorre que desta vez a reação das pessoas dá sinais de que não haverá esquecimento e a falta de soluções pode, em muito breve, levar o povo novamente às ruas em movimentos de protesto generalizado.
Assim, que os políticos não ousem majorar preços de pedágios, passagens etc… sem ter uma justificativa muito boa. A população não vai aceitar mais as imposições.
Que o governo federal e alguns estaduais não pensem que até as eleições do ano que vem tudo será esquecido, mesmo que nada seja feito.
Não será, isso é perceptível. O povo está muito mais atento e muito mais interessado do que antes.
Porém, o que chama atenção hoje é a questão do Poder Judiciário.
Nesses dias de julgamento dos recursos dos mensaleiros, os olhos dos brasileiros se voltam a Brasília no Supremo Tribunal Federal (STF).
Mesmo inoperante e se vendo questionado sobre a incapacidade de agir no caso da corrupção e dos desmandos que ocorrem em quase todas as instituições, a população ainda deposita no Judiciário sua última esperança.
E essa última esperança pode ser o julgamento dos mensaleiros. Pode, e até diria que será.
Caso o julgamento seja seguido de prisão e punição adequada de acordo com o que espera o povo que foi às ruas, tudo bem, salvou-se o Judiciário.
Mas, se essa Casa, símbolo da esperança do povo que clama por Justiça, se deixar envolver nas tramoias que os políticos criaram com esse emaranhado de leis, quase todas para se beneficiar, o Judiciário poderá cair em descrédito total perante a opinião pública e passar a ser visto da mesma forma como são os políticos, e pior, pelos mesmos motivos, de não querer atrapalhar a vida dos corruptos.
Dizem que o Judiciário não se curva à pressão das ruas, mas é bom se curvar ao bom senso, porque neste momento, depois de tudo que foi dito e confirmado, não é admissível que os mensaleiros sejam absolvidos e nem que suas penas sejam transformadas em algo que ridiculariza ainda mais nossas instituições.
Que as decisões do Supremo passem a sensação de que ser honesto vale a pena, mas, principalmente, que o crime não compensa.

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