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Elio Migliorança

Horizonte cinzento

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No início de 2020 nem o mais fanático pessimista poderia antever que o Brasil viveria a mais trágica experiência de sua história na área da saúde pública e que milhões de brasileiros viveriam a maior crise de suas vidas. No momento há uma esperança de normalidade no horizonte por conta do avanço do número de vacinados e de uma queda no número de mortos e doentes em estado grave. Contudo, na região Oeste do Paraná, e por extensão todo o Sul do Brasil, nuvens escuras aparecem no horizonte e nos alertam para um agravamento no setor que é nossa marca registrada: o agronegócio.

Há alguns números assustadores, festejados por muitos, enquanto os mais sensatos alertam para uma crise sem precedentes, se a natureza continuar instável e imprevisível.

Os números festejados são os preços de milho, soja e trigo que atingiram patamares nunca vistos. Nunca se viu saca de soja a US$ 30, de milho a US$ 18 e de trigo a US$ 17. É a lei da oferta e da procura, até aí tudo bem. Os países compradores vieram, negociaram e levaram. Quem tinha para vender, fez a festa. Mas, na outra ponta está o mercado consumidor destes produtos, ingredientes para colocar na mesa o pão nosso de cada dia e mais milhares de outros alimentos que dependem destes grãos. Além destes, outro estratégico consumidor é o produtor de proteína animal, ou seja, o avicultor, o suinocultor e o bovinocultor. Sem alimentos, não haverá carne na prateleira do supermercado e consequentemente na mesa dos brasileiros.

Os inimagináveis preços destes grãos estão apavorando milhões de produtores rurais que possuem granjas geradoras de milhões de empregos diretos e indiretos, além de vultuosas somas investidas nestes projetos, que precisam ser pagos e para tal precisam produzir e ter lucro. Com este custo dos grãos para alimentar os animais, o lucro diminuirá e a crise vai chegar.

E para não deixar ninguém dormir tranquilo, estamos vivendo uma seca devastadora, na fase mais crítica da 2ª safra de milho, esperança de lucro para quem produz, e questão de sobrevivência para quem consome. No tempo não podemos mandar, então nada há para fazer se não esperar e torcer para que chova logo.

Mas há outra questão que precisa ser comentada que é a política governamental de fazer um estoque regulador para balizar preços e socorrer os consumidores em tempos de vacas magras. No passado existia esta política governamental. Os mais antigos recordam das AGFs: Aquisições do Governo Federal. Em tempos de alta produção, o governo comprava e estocava para vender nos momentos de frustração de safra e assim o mercado consumidor tinha produto à disposição. Não adianta pagar no próximo ano R$ 150 por saca de milho se não houver milho disponível no mercado. E se o clima continuar assim, é o que fatalmente vai acontecer.

Enquanto nós discutimos ideias e ideologias, os compradores internacionais pensam exatamente nas reservas para os momentos de crise e se utilizam da nossa produção para fazer o seu estoque regulador, e se bobear vão nos vender nosso próprio produto pelo dobro do preço. 

Quem dirige os destinos do país precisa pensar, sim, em todas estas variantes, pois delas dependem nossa sobrevivência. Os políticos só pensam na próxima eleição, os estadistas pensam na próxima geração.

 

O autor é professor aposentado de Nova Santa Rosa

miglioranza@opcaonet.com.br

 

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