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Elio Migliorança

IDEIA GENIAL, PORÉM INÚTIL

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O mundo anda carente de boas ideias, porque das boas idéias surgem programas e realizações benéficas para a coletividade. Parece difícil que uma ideia genial possa ser inútil, mas, na minha opinião, aqui estão duas que se enquadram na classificação. A primeira grande ideia veio da Itaipu Binacional, que lançou, no Dia da Árvore (21 de setembro), milhares de balões na região, recheados de semente nativas, os quais se desintegraram no ar, espalhando milhares de semente no Oeste do Paraná. Ideia genial, mas sem efeito prático. Raciocine comigo. A quase totalidade da área rural da região é cultivada. Logo as sementes que caírem nas lavouras serão eliminadas, voluntária ou involuntariamente. Involuntariamente porque no preparo das lavouras para plantio tudo o que estiver nascido será eliminado, inclusive as preciosas mudas. Outras serão eliminadas intencionalmente porque o agricultor teme ficar “refém” da árvore se ela crescer, porque aí não poderá mais derrubá-la. As sementes que caírem no perímetro urbano sequer vão nascer, ou você consegue imaginar uma linda peroba crescendo no jardim de sua casa? E as sementes que caírem às margens dos rios ou no meio dos bosques, bem, lá já existem árvores que produzem sementes, faltando espaço para mais mudas. Qual seria então a melhor forma para aumentar o reflorestamento?
Na minha opinião, conscientização da comunidade através de reuniões, ao fim das quais se distribuiriam mudas para as pessoas plantarem na propriedade em lugar escolhido pelo proprietário.
Como evento para chamar a atenção da sociedade até que o lançamento dos balões foi divertido, mas o resultado prático no sentido de reflorestar será nulo.
A outra ideia vem dos altos escalões da República. Agora é obrigatório cantar o Hino Nacional nas escolas, no mínimo uma vez por semana. Na visão de quem está do lado de fora da escola pode parecer uma ideia de gênio. Como se todos os alunos se tornassem patriotas por decreto. Como se o amor à pátria pudesse ser enfiado goela abaixo dos alunos. Não é assim que funciona. Patriotismo é um sentimento que nasce dentro da gente a partir de exemplos concretos de “amor à pátria”, quando alguém dedica parte de sua vida para o bem do país. Mas o exemplo das nossas autoridades, as atitudes dos nossos governantes, dos membros do Congresso Nacional, desperta tudo, menos patriotismo.
Os jovens estudantes não são bobos e estão vendo a desconstrução do patriotismo no péssimo exemplo dado por aqueles que deviam defender o país, mas estão defendendo o seu próprio interesse.
Até o futebol, que é uma paixão nacional, perdeu grande parte de seu encanto na medida em que os jogadores se esforçam apenas quando ganham altas gratificações. Muitos clubes de futebol no Brasil estão mal das pernas, mas os seus dirigentes estão bem, seguindo a prática dos políticos, que colocam o seu próprio interesse acima de tudo.
Quando nossos governantes forem éticos e decentes, o Hino Nacional será cantado automaticamente. Palavras comovem, decretos obrigam, mas os bons exemplos é que arrastam.

* O autor é professor em Nova Santa Rosa
miglioranza@opcaonet.com.br

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