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Elio Migliorança

INCLUSÃO EQUIVOCADA

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A Comissão de Educação do Senado aprovou, em 11 de setembro, a inclusão de uma nova disciplina no currículo escolar, a disciplina de “Cidadania, Moral e Ética”. Ideia aparentemente luminosa, mas que acrescentará zero de efeito prático no processo educacional. O senador Sérgio Souza, autor do projeto, mirou o alvo errado quando propôs sobrecarregar o já entupido currículo escolar, com mais uma disciplina, dando a entender que esta seria a solução para o grave problema ético que vivemos. Nosso sistema educacional já é criticado pelos resultados em olimpíadas internacionais. Agora querem tirar mais tempo dos estudos de português, matemática, história e outras para ensinar moral e ética. As aulas de cidadania, moral e ética deviam começar sim, mas bem longe das salas de aula. Primeiro punindo exemplarmente todos os políticos comprovadamente corruptos, como o Supremo Tribunal Federal está fazendo com os réus do mensalão. Segundo que o Senado fizesse uma faxina dentro de Casa, adequando os salários dos seus funcionários aos praticados no mercado nacional, pois não é concebível que um diretor de garagem do Senado ganhe mais que um general de Exército. Também é inaceitável que o Senado tenha mais que 12 mil funcionários. Terceiro que todos os crimes cometidos por bêbados no trânsito fossem exemplarmente punidos, independente do sobrenome do infrator. Fatos como estes, somados aos escândalos que diariamente são estampados nas páginas dos meios de comunicação, anulam numa tacada o efeito de 150 aulas de cidadania, moral e ética.
Outro problema não considerado pelo autor é a questão de logística, quando sugere que a nova disciplina pode ter as aulas no contraturno dos estudantes. Se os alunos do matutino vierem à tarde para estas aulas, onde colocá-los se as salas estão cheias com os alunos do vespertino? E como farão os ônibus do transporte escolar para trazer à tarde os alunos dos dois períodos? Aulas no contraturno podem ser uma boa ideia, mas primeiro precisam construir as salas para tal.
O destaque que a mídia está dando ao julgamento do mensalão, com as corajosas e bem elaboradas questões postas pelo ministro Joaquim Barbosa, vale mais do que centenas destas aulas. De que adianta ensinar moral e ética para as crianças se a cada dia milhares de brasileiros desrespeitam as leis dirigindo em alta velocidade, bebendo e dirigindo, provocando acidentes com mortes e tudo fica numa boa? Como falar aos estudantes de ética e moral depois que a Câmara dos Deputados absolveu a deputada Jaqueline Roriz, gravada recebendo dinheiro sujo? Como falar de cidadania diante das imagens chocantes de doentes morrendo nos corredores dos hospitais por falta de atendimento da saúde pública?
Diminuindo o tempo de estudo das disciplinas do conhecimento acadêmico estaremos piorando os indicadores da educação nacional, enquanto os maus exemplos que ficam impunes se encarregarão de destruir as convicções daqueles que ainda acreditavam em dias melhores para o futuro. Este é um aprendizado cuja solução precisa começar nos escalões superiores para convencer os estudantes de que este é o melhor caminho.

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