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Editorial

Intoxicação (por se) alimentar

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O mundo tem hoje mais de sete bilhões de habitantes. Em 2050, de acordo com as projeções da Organização das Nações Unidas, o planeta terá mais de nove bilhões de pessoas. A grande questão é: como alimentar tanta gente? Vai ser preciso produzir cada vez mais alimentos, relativamente ocupando o mesmo espaço, para dar conta dessa iminente demanda por comida. Assim, a produtividade relativa por espaço deve ser cada vez maior.

A produtividade brasileira de grãos saltou exponencialmente nos últimos 40 anos. O que se produz de grãos por hectare hoje a duas ou três décadas era inimaginável. A agricultura de precisão dos dias de hoje proporciona safras mais robustas, que enchem os silos Brasil afora, servindo não só de alimento para as pessoas, mas de base nutricional para os animais de produção. Aqui, cabe destacar que o Brasil é um dos maiores produtores de proteína animal do planeta, ostentando o posto de maior rebanho bovino do mundo, segundo maior produtor de aves e quarto maior produtor de carne suína.

Muita dessa generosa produtividade vem da genética vegetal, que ano a ano tem produzido híbridos e cultivares cada vez mais adaptados às regiões em que são cultivadas. Por outro lado, as lavouras ganharam inseticidas, fungicidas e herbicidas que garantem o máximo aproveitamento do material cultivado. No entanto, isso se traduz em veneno.

A carga de agrotóxicos que hoje está nas plantas, seja na soja, no milho, no tomate ou na berinjela, é muito alta. O controle manual de pragas não mais existe, foi substituído por aplicações sucessivas de veneno sobre a comida que as pessoas ingerem.

Centenas de estudos ao redor do mundo comprovam o mal que esses agroquímicos fazem à saúde. Mesmo assim, a indústria continua produzindo, o produtor continua usando e o mundo continua consumindo produtos de tal origem, muito em nome da tão falada produtividade para atender a demanda mundial por comida.

É preciso, no entanto, reduzir drasticamente o uso desses “defensivos”, que intoxicam a comida, o ambiente e as pessoas. É preciso pressão popular e política, especialmente contra meia dúzia de multinacionais controladoras de todo esse sistema. A ciência é sim, hoje, capaz de produzir substâncias alternativas a esses agressivos agrotóxicos usados hoje, bem como o produtor e os técnicos são capazes de mudar o manejo das lavouras para evitar as repetidas aplicações desses materiais. Dado o grande interesse econômico dessas gigantes do agrotóxico, só uma pressão sistemática por alternativas pode surtir algum efeito.

O número de pessoas está aumentando sistematicamente ao redor da Terra e a produção de alimentos precisa aumentar para saciar a fome de toda essa gente. No entanto, mostra-se equivocado e insustentável o modelo de produção agrícola, no Brasil e no mundo, privilegiando o veneno em detrimento do trabalho. Novas alternativas precisam aparecer no mercado para reduzir, ou banir, o uso de substâncias tóxicas na produção de alimentos. Do contrário, o mundo terá cada vez mais pessoas, cada vez mais doentes. Uma globalizada intoxicação (por se) alimentar.

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