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Tarcísio Vanderlinde

Jesus na abordagem de Flávio Josefo

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Para muitos críticos, Flávio Josefo (37-100 d.C.) não passa de um suspeito historiador da antiguidade judaico-romana. Contudo, o conceituado historiador Carlo Ginzburg, largamente reconhecido na academia, observa que as narrativas fabulosas e contradições encontradas em Josefo mesclam-se com dados preciosos, que denotam conhecimentos profundos da história e das tradições judaicas e que a arqueologia moderna vem comprovando de maneira, às vezes, surpreendente.

Josefo consta no restrito rol de historiadores da antiguidade que fizeram referência à existência histórica de Jesus. Com relação direta ou indireta a respeito de referências sobre a existência de Jesus ainda podem ser elencados: Cornélio Tácito (56-118 d.C.), Plínio, o Jovem (61-113 d.C.) e Luciano de Samósata (115-200 d.C.). Todos estes autores apresentam fontes extrabíblicas sobre a existência de Jesus.

É de Josefo a referência mais famosa sobre o mestre da Galileia. O fragmento ficou conhecido como Testimonium Flavianum (Testemunho de Flávio) e consta em “Antiguidades Judaicas”. Na edição brasileira das obras completas de Josefo publicada pela CPAD em 1990, o testemunho de Flávio aparece com este formato:

“Nesse mesmo tempo, apareceu Jesus, que era um homem sábio, se é que podemos considerá-lo simplesmente um homem, tão admiráveis eram as suas obras. (…) Ele era o Cristo. (…) Os que o haviam amado durante a sua vida não o abandonaram depois da morte. Ele lhes apareceu ressuscitado e vivo no terceiro dia”.

A parte da citação “… se é que podemos considerá-lo simplesmente um homem” acabou gerando dúvidas sobre sua autenticidade. Historiadores suspeitam que o fragmento possa ter sido editado posteriormente no intuito de favorecer os cristãos, e não redigido por Josefo, um historiador judeu-romano não-cristão.

Porém, um estudo publicado pelo historiador Shlomo Pines, em 1971, parece lançar mais luz sobre o assunto. Sua fonte foi um inusitado texto do Testemunho de Flávio publicado em árabe datado do século X. Segue o trecho traduzido:

“Naquele tempo havia um homem sábio chamado Jesus. Seu procedimento era bom e era conhecido por suas virtudes. E muitas pessoas dentre os judeus e de outras nações tornaram-se seus seguidores. Pilatos o condenou a ser crucificado e a morrer. Mas aqueles que se tornaram seus discípulos não abriram mão de seu discipulado. Eles relataram que ele lhes teria aparecido três dias depois da sua crucificação e que estaria vivo. Tendo isso em vista, ele talvez tenha sido o Messias, a respeito do qual os profetas relatavam maravilhas”.

 

O autor é professor sênior da Unioeste

tarcisiovanderlinde@gmail.com

 

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