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Silvana Nardello Nasihgil

Julgamento alheio

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Dois mil e dezenove quase encostando em 2020, e nós como estamos? Como anda o nosso pensar, o julgar e o juízo de valores que fazemos a respeito daquilo que nos é apresentado, e em relação às pessoas que convivemos como temos nos comportado?

Não vou me ater a uma generalidade de situações. Gostaria de falar sobre aquilo que temos nos permitido viver individualmente, aquilo que tem tocado o nosso existir e trazido um sofrimento psíquico desnecessário. Pode parecer estranho, mas o preconceito, seja de que natureza for, incomoda e faz sofrer.

Mesmo que se tente achar desculpas para poder carregar ideias e atitudes preconceituosamente, a simples noção de que somos seres sociais carrega consigo um peso que precisa ser processado e dissolvido. Vivemos em sociedade e não dá pra esquecermos que o respeito aos direitos dos outros é regra máxima do nosso existir.

Ainda hoje olhamos para os outros, seu modo de ser, suas atitudes e julgamos, julgamos aquilo que ao nosso ver não concordamos.

O preconceito nos surpreende muitas vezes, porque é frequente o olhar de julgamento, sobre raça, cor, orientação religiosa, beleza, sexualidade, forma física, agremiação esportiva, política… coisas tão absurdas como: ela é gorda porque quer. Ele é gay porque é um frouxo. Fulano é de esquerda então nada de bom pode sair de um ser assim… são inúmeras coisas que ouvimos todos os dias, e algumas tantas que podem até povoar o nosso pensar e que ao nos depararmos com esse pensamento até nos assustamos.

Nesse pensar e agir mostra-se a intolerância que se carrega. Isso fala muito mais de quem vive o preconceito do que a quem ele é dirigido. O preconceituoso na maioria das vezes carrega o peso de estar falando de si, da sua história de vida, dos seu medos e da sua incapacidade de lidar com as diferenças. Quando não aceita o outro como ele é, tem aí uma infinidade de coisas com as quais não consegue lidar consigo, pois se sente incapaz de lidar com o fato de que precisa aceitar mesmo aquilo com o qual não concorda.

Estamos vivendo em um mundo com tanta modernidade e com tantos avanços, e ainda é possível ver quanto de preconceitos absurdos têm enraizados, quanto as pessoas sofrem e fazem sofrer por não se permitirem ser livres no modo de pensar, agir, amar, viver e enxergar o básico da vida.

Mesmo que pareça absurdo, o preconceito não segue regra alguma. Ele vem muitas vezes de quem menos esperamos. É um sentimento/agir perverso, classifica sem critérios e ao “bel prazer” a existência humana, nomeando aquilo que não é aceito e dando ao preconceituoso o status de dono da verdade.

Seria de grande valor nos darmos o direito de sermos autênticos conosco, buscando lá no nosso interior aquilo que tem nos afastado de pessoas ou coisas. Aquilo no qual temos colocado rótulos; aquilo que ao expressar mostra o pior de nós; o que machuca os outros, fere desmedidamente, nos faz inquietos, parciais, deselegantes, pesados, chatos, bobos, enfim, aquilo que nos desqualifica e nos impede de viver com leveza.

Seria de muito valor se a gente olhasse lá dentro de nós e buscássemos reconhecer as razões de estarmos presos a conceitos que nada de bom têm para nos acrescer, pelo contrário, nos aprisionam emocionalmente e psicologicamente, sendo raiz de sofrimentos, roubando chances de momentos únicos, de dias felizes e amores verdadeiros.

 

Silvana Nardello Nasihgil é psicóloga clínica (CRP – 08/21393)

silnn.adv@gmail.com

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