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Elio Migliorança

Juquirão

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Foram mais de 2,5 mil quilômetros rodados rumo ao Norte do Estado do Mato Grosso para conhecer um projeto de colonização desenvolvido pela Cotriguaçu, uma empresa formada em 1975 por um consórcio de cooperativas agropecuárias com sede na cidade de Cascavel. Na década de 1980 a Cotriguaçu adquiriu uma extensa área naquela região e para lá migraram muitos agricultores do Sul do Brasil, levando na bagagem a esperança de construir um futuro melhor devido ao preço baixo das terras na região.

A rota Marechal Cândido Rondon (PR) a Juruena (MT) permite contemplar uma das regiões mais ricas e produtivas do Brasil, onde o cerrado deu lugar a um imenso tapete verde ocupado pela soja e pastagens que abrigam milhões de cabeças de gado, ambos responsáveis pelo equilíbrio da balança comercial brasileira.

Chegar a Juruena não é fácil. Foram 40 horas de ônibus e muitas surpresas no caminho. Os últimos 80 quilômetros em estrada de terra, um perigo pelas condições da estrada, e uma constatação trágica: no papel a estrada está asfaltada, mas o dinheiro foi desviado e o asfalto sumiu no ralo da corrupção. Cai a ficha e lembro-me que estou no Brasil. Já houve até reforma do asfalto, só no papel, é claro.

Vários municípios da região, riquíssimos em extração de madeira e criação de gado, prejudicados pelo transporte precário de seus produtos e pela dificuldade de acesso a recursos médicos em cidades maiores, já viram muitas vidas ceifadas pelas péssimas condições da estrada.

Enquanto vou conhecendo as riquezas da região, sou convidado a visitar um juquirão. Surpreendido pelo convite e desconhecendo o termo, explicam-me que juquira é uma mata de porte baixo que cresce em áreas abandonadas, o que no Sul chamamos de capoeira. O juquirão é mato de maior porte porque a fazenda em questão foi abandonada há mais tempo. Era uma fazenda com muito gado. Os funcionários recebiam alojamento, refeições e salário com carteira assinada. Certo dia chegaram fiscais do Ministério do Trabalho e fizeram pente-fino para verificar o cumprimento das leis trabalhistas. Como diz um ditado popular, “quem procura acha”, mesmo que às vezes sejam chifres em cabeça de cavalo. De repente, bingo, lá estava a irregularidade: nos banheiros não havia papel higiênico. Logo foi feito o devido enquadramento sem ouvir as razões do proprietário, que justificou dizendo que no almoxarifado, o qual estava aberto e com acesso livre aos trabalhadores, havia papel higiênico em quantidade bastando que qualquer um fizesse a reposição quando dele tivesse necessidade.

A explicação não convenceu os fiscais e pesada multa foi imposta ao proprietário. Revoltado e desgostoso com a injusta punição imposta, alegando ter capital e renda suficiente para viver sem se submeter a humilhações como esta, o proprietário resolveu vender o gado, dispensou os funcionários, desativou a fazenda e está aguardando oportunidade para vender o imóvel. Enquanto isso, a juquira fica cada vez mais robusta.

As duas situações relatadas neste artigo comprovam a necessidade de uma guerra contra a corrupção e uma profunda reforma da legislação trabalhista. Não extinguir o Ministério do Trabalho, mas acabar com a indústria das multas trabalhistas que infernizam a vida de quem trabalha e gera empregos. Há muita esperança no ar com o governo que vem aí.

O autor é professor em Nova Santa Rosa

miglioranza@opcaonet.com.br

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