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Editorial

Máquina etiquetadora

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Se você tem 40 anos ou mais, certamente vai lembrar da época da inflação galopante que atingia o Brasil nos anos 80. As máquinas etiquetadoras para remarcar os preços eram usadas todos os dias para aumentar os preços corroídos pela inflação do dia anterior. O que ontem valia muito hoje valia nada. Os preços eram modificados todos os dias.

Cerca de três décadas se passaram, o Plano Real ajudou a estabilizar a moeda e destituiu definitivamente a hiperinflação do país. As máquinas etiquetadoras foram aposentadas e os preços se estabilizaram.

No entanto, o governo de Michel Temer parece querer retomar o tempo das altas diárias dos preços das mercadorias no país. Na semana passada, foram nada mais, nada menos que cinco aumentos diários e consecutivos dos preços do diesel nas refinarias. Hoje (22), mais um aumento, de quase 1%, entra em vigor. Só neste ano, a matéria-prima para mover os caminhões do Brasil acumula alta de 8%. A gasolina segue o mesmo ritmo. De “migalha em migalha”, Temer e seus comandados já aumentaram em 22% o valor desse combustível em apenas um ano. Os preços do botijão de gás, do etanol e da energia elétrica também dispararam após seguidos e inquietantes aumentos.

Não poderia dar em outra coisa a não ser greve dos caminhoneiros, que ontem (21) fizeram protestos e manifestações em 17 Estados da nação. Diretamente esses profissionais são os mais afetados, ampliando seus custos mesmo o frete mantendo-se em níveis estáveis. Ou seja, está gastando mais para trabalhar, sem a devida compensação por conta da alta no preço dos combustíveis.

A Petrobras alega que agora pratica uma nova política de preços, com base no mercado internacional, mas esquece de dizer que os altos impostos que incidem sobre o líquido que sai das bombas são os principais responsáveis pelos preços hoje praticados no Brasil. A carga tributária sobrecarrega os preços de um dos principais insumos para o desenvolvimento de qualquer país ou região. Sem ter o que fazer, o motorista fica refém e tem que pagar pelo que os poderosos de Brasília decidem. Não há como ficar sem a principal matriz energética dos transportes.

Todo mundo bem lembra dos transtornos que a greve dos caminhoneiros provocou no país de Norte a Sul há poucos anos. As manifestações chegaram inclusive a Marechal Cândido Rondon e outros municípios do Oeste do Paraná. Faltaram alimentos nas prateleiras, os produtos básicos ficaram mais caros, faltou até combustível. Sem os caminhões, uma crise profunda se desenha em questão de dias.

Mas o governo parece não estar nem aí. Temer não quer saber quanto o motorista tem que pagar para encher o tanque do possante, quer saber é de arrecadar dinheiro. São aumentos absurdos, muito além da inflação ou algo parecido, que mexem no bolso dos consumidores e ferem a renda das famílias. Com sua máquina etiquetadora, o presidente do Brasil faz a população rememorar a era da hiperinflação dos tempos de Sarney. De cima de seu pedestal, remarca preços e multiplica insatisfação. Ganha dinheiro açoitando o lombo de quem trabalha com incontáveis chicotadas de sua máquina etiquetadora.

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