Arno Kunzler
Mau sinal
Na mesma semana em que o presidente Jair Bolsonaro rebateu críticas ao dizer que a Lava Jato terminou porque acabou a corrupção, um “monstrengo” reaparece com dinheiro escondido entre as nádegas do vice-líder do governo no Senado.
Sem dúvida um mau sinal. Sinal de que a corrupção não acabou e, pior, o método utilizado pelos corruptos atuais é o mesmo utilizado pelos antecessores.
Não cabe aqui achar que o presidente está envolvido ou comprometido com isso, pelo contrário, não acredito que esteja. Mas fica a certeza que algum setor do governo dele está, o que não deixa de ser extremamente preocupante.
Aliás, só os ingênuos poderiam imaginar que a corrupção acabaria com a posse de um novo governo, sendo que os seus membros, muitos deles pelo menos, integraram governos anteriores com tudo que sabemos o que aconteceu.
O que acabou infelizmente foi a Lava Jato. Essa, sim, vai fazer muita falta no Brasil.
Boas intenções de um governo não bastam. É preciso implantar boas práticas e deixar a prepotência de lado.
Um governo, qualquer que seja, antes de mais nada, precisa ter humildade e reconhecer seus erros, reconhecer que é frágil porque é feito de pessoas e pessoas são vulneráveis.
Portanto, exaltar o fim da corrupção, mesmo que o governante eleito tenha esse propósito, não é um discurso convincente.
O que convence o povo sobre combate à corrupção são atos e exemplos.
Infelizmente os exemplos não são convincentes. Pelo contrário, quando o vice-líder do governo é pego com dinheiro escondido entre as nádegas estimula nossa reação e nos faz pensar que tudo continua como antes, que os corruptos continuam agindo e que as obras e serviços públicos administrados pelo governo continuam rendendo propina.
A performance do governo no combate à corrupção, até agora pelo menos, não é convincente, infelizmente.
Se o governo Bolsonaro não quiser cair em descrédito terá que mudar sua postura diante dos órgãos de fiscalização e investigação dos crimes de corrupção e adotar um novo discurso.
Debitar todas as mazelas na conta dos outros não vai durar muito.
Arno Kunzler é jornalista e diretor do Jornal O Presente e da Editora Amigos
arno@opresente.com.br