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Editorial

Medo

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Medo. Tá, pode dizer que é receio, apreensão, desconfiança, mas no fim das contas é medo. É isso que lideranças que representam a região lindeira ao Lago de Itaipu estão sentindo com o discurso do novo diretor-geral brasileiro da usina, general Joaquim Silva e Luna, empossado no cargo na terça-feira (26), na presença do presidente Jair Bolsonaro. E motivos para o temor não faltam, principalmente pelo fato de que a binacional tem sido, nos últimos anos, uma parceira incondicional dos municípios afetados pela formação do reservatório.

O temor tem seus motivos. É a primeira vez que não há um paranaense nomeado para ficar à frente da imponente geradora de energia. A nomeação foi diretamente feita por Bolsonaro, sem que fosse consultada a bancada paranaense no Congresso Nacional ou coisa parecida. Três: em 2023 será reformulado o tratado que mexe no dinheiro da usina. Aliás, é a data prevista para o fim do pagamento de royalties a esses municípios.

O movimento para que esses royalties continuem sendo depositados aos municípios já existe faz tempo, mas uma diretoria que a priori parece mais impositiva que negociante pode rapidamente dar cabo ao anseio dos prefeitos e população de modo geral. Silva e Luna, que pouco ou nada conhece sobre o relacionamento da binacional com os municípios, pode trocar os pés pelas mãos se mexer nesse namoro que tem dado certo desde o tempo do PT.

O que preocupa em um primeiro momento nem é o fim dos royalties, mas o fim dos convênios que a Itaipu tem com as cidades em seu entorno e que liberam dezenas de milhões de reais todos os anos para o desenvolvimento regional, seja ele econômico, social ou ambiental. As ações da usina, nos últimos anos, resultaram em grandes feitos, como recuperação de nascentes e matas ciliares, projetos educacionais, construção de obras e promoção da vida sustentável.

Se você acha que os municípios vizinhos à gigante têm regalias, lembre-se que desde os anos de 1980 e até hoje parte desses municípios está submersa sob às águas do lago, portanto são áreas improdutivas e que não geram impostos, a não ser para a própria Itaipu. Não se pode esquecer o quão difícil foi para muitas famílias abandonar o que tinham, por indenizações suspeitas, para que suas terras fossem alagadas e Itaipu começasse a produzir. Não se pode esquecer do adeus às Sete Quedas.

Fato é que o discurso de Silva e Luna de centrar esforços na produção de energia, proferido na solenidade de posse, assustou os prefeitos e outras lideranças do Oeste paranaense. Ninguém parece estar tranquilo, pelo contrário. Os discursos, mesmo de quem apoiou o “Mito”, não são nada despreocupados.

Bolsonaro está cumprindo o que disse em campanha: não indicar ninguém para cargos estratégicos levando em consideração a opinião alheia ou acordos políticos. Achem bom, achem ruim ou não achem nada. Fato é que quando não há diálogo, ou este é escasso, há verdadeiramente uma boa oportunidade para ficar apreensivo… ou com medo.

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