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Elio Migliorança

MINHA PRECE…

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Minha prece sentida, chorada e sofrida vai hoje para as vítimas de um massacre inexplicável na avenida: as árvores tombadas e esquartejadas. Árvores frondosas, bonitas e majestosas que, mais do que fazer parte da paisagem, eram testemunhas da história de um tempo de glória que não se apaga da memória. Testemunharam as conquistas, as celebrações e as emoções que inspiraram as canções da vida da comunidade por 26 anos. À sombra delas nossos filhos brincaram, cresceram, sonharam e viveram suas aventuras, travessuras, medos e fantasias de crianças. Árvores que testemunharam namoros, encontros fortuitos, conversas ao pé do ouvido, fofocas maldosas, negócios, preces e bate-papo, a todos elas acolheram com sombra generosa e protetora, não discriminando ninguém.
Além da bela paisagem, estão na lembrança dos jovens e das crianças, pois faziam parte da avenida onde cresceram aqueles que nasceram nos últimos 26 anos. Formavam um túnel verde sob o qual se compraziam os que passeavam e os que trabalhavam. Diante do calor inclemente do sol, protegiam todos com sombra generosa. Nas festas de Natal, lá estavam elas enfeitadas com graciosos laços e lâmpadas multicoloridas. Porém, a insensatez do ser humano as condenou à morte. Sem direito à defesa e nem júri popular. Estiveram no corredor da morte, enquanto nas salas com ar-condicionado se decidia pela erradicação de sua sombra protetora e majestosa presença no coração da cidade.
Em outros lugares se mudam ruas, postes ou construções para salvar a natureza, aqui ela recebeu um golpe mortal. Ao ronco dos motores, foi acionado o machado do carrasco. Machado moderno, ecologicamente incorreto porque movido com combustível fóssil, com seus 32 afiados dentes, dilacerou o ventre das 88 que vieram pela frente. Sequer tiveram o direito a um barulhento e espetacular tombo, talvez fosse seu último pedido, direito concedido a todos os condenados à morte, mas nem isso elas tiveram.
Seu pecado? Cresceram no meio da cidade e por isso tiveram que ter seus membros decepados impiedosamente de cima para baixo, e aos pedaços nem ao chão puderam cair. Não pediram para crescer ali, foram plantadas, protegidas e tratadas com muito carinho. Agora esquartejadas, estavam prontas para a conclusão do massacre, arder no fogo de uma fornalha qualquer para queimar argila e produzir tijolos que sustentarão novas estruturas de natureza morta.
Que fazer agora? Com a avenida pelada em nome do “progresso”, teremos cobertura de acrílico fosco para proteger-nos dos venenosos raios que passam pelo buraco na camada de ozônio? Ou estaremos condenados a queimar eternamente sob o calor inclemente do sol que, útil no processo produtivo, pode ser mortal se absorvido em demasia pelo ser humano? Ou terão os “iluminados” que fizeram isso alguma informação confidencial do Pai Eterno de que nos próximos anos os raios solares ficarão mais amenos, a camada de ozônio vai se recompor e poderemos sair ao sol o tempo todo sem perigo? Como os órgãos de proteção ao meio ambiente, sempre tão ágeis e rigorosos para multar os agricultores que mexem com uma árvore, puderam permitir isso?
Homenagem às 88 árvores da Avenida Santo Cristo, em Nova Santa Rosa, que foram derrubadas no projeto de “revitalização” da avenida. Ah, o que é mesmo revitalizar?

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