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Elio Migliorança

MISTÉRIO DESVENDADO

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Estamos num ano eleitoral. Aproximam-se as eleições municipais. Muitas obras serão realizadas, promessas, enfim, serão cumpridas, tudo em nome da democracia, para que o povo “livremente” possa escolher seus novos governantes. Mas a democracia que temos por aqui é um mistério. Fui buscar no livro “Desfiz 75 anos”, de Rubem Alves, a melhor definição, em 12 itens, sobre a verdadeira democracia praticada por aqui. 1) Somos uma democracia. A democracia é o melhor sistema político. É o melhor porque nele, ao contrário das ditaduras, é o povo que toma as decisões. 2) Em Atenas, berço da democracia, era fácil consultar a vontade do povo. Atenas era uma cidade com poucos moradores. Eles se reuniam numa praça e tomavam as decisões pelo voto. Mas no Brasil são milhares de cidades, espalhadas por milhares de quilômetros, e os cidadãos são milhões. Não podemos fazer uma democracia como a de Atenas. Esse problema foi resolvido de forma engenhosa: os cidadãos, milhões, escolhem por meio de votos uns poucos que irão representá-los. O Congresso é a nossa Atenas. 3) Assim, um vereador, um deputado, um senador, um prefeito, um governador e um presidente são pessoas que abriram mão de seus interesses para cuidar apenas dos interesses do povo que eles representam. 4) É assim na teoria. Na prática é assim…
5) As raposas, devotas de São Francisco, sabem que é dando que se recebe. Assim, movidas por esse ideal espiritual, elas dão muito milho para as galinhas. 6) As galinhas, interesseiras e tolas, tomam esse gesto das raposas como expressão de amizade. A abundância do milho as faz confiar nas raposas. E como expressão da confiança nascida do milho, elas elegem as raposas como suas representantes. 7) Eleitas por voto democrático, às raposas é dado o direito de fazer as leis que regularão o comportamento das galinhas. 8) As leis que regem o comportamento das raposas não são as mesmas que regem o comportamento das galinhas. Sendo representantes do povo, precisam de proteção especial. Essa proteção tem o nome de “privilégios”, isto é, leis que se aplicam aos poucos especiais. 9) Privilégio é assim: raposa julga galinha. Mas galinha não julga raposa. Raposa julga raposa. Logo, raposa absolve raposa. 10) “Todos os cidadãos são livres e têm o direito de exercer sua liberdade”. As galinhas são vegetarianas e têm direito de comer milho. As raposas são carnívoras e têm o direito de comer as galinhas. 11) A vontade das galinhas, ainda que seja a vontade de todas, não tem valia. Vontade de galinha solitária só serve para escolher seus representantes. A vontade que tem poder é a das raposas.

12) Permanece a sabedoria secular de Santo Agostinho, aqui traduzida em linguagem brasileira: “Tudo começa com uma quadrilha de tipos ‘fora da lei’ – criminosos, ladrões, corruptos, doleiros, burladores do fisco, mafiosos, mentirosos, traficantes. Se essa quadrilha de criminoso se expande, aumenta em número, toma posse de lugares, de cargos, de ministérios, da presidência de empresas e fica poderosa a ponto de dominar e intimidar os cidadãos, estabelecendo suas leis sobre como repartir a corrupção, ela deixa de ser chamada de quadrilha e passa a ser chamada de Estado. Não por ter-se tornado justa, mas porque aos seus crimes se agregou a impunidade”.

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