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Editorial

Momento de cautela

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No comecinho da pandemia da Covid-19, quando muita gente sequer sabia ao certo o que era uma pandemia, o alarde foi tanto que as pessoas ficaram, ao menos nas primeiras semanas, isso lá no fim de março, início de abril de 2020, com medo de sair de casa e ter contato com outras pessoas. Ao mesmo tempo, preocupadas com o que seria dos seus empregos amanhã, dos seus salários, dos seus negócios.

Passou um tempo e tudo entrou nos eixos, mesmo com dificuldades e desafios.

Dois anos depois, a pandemia acalmou, está a um passo de se tornar endemia, mas agora não é necessariamente o coronavírus que preocupa grande parte da população. Mais uma vez tem muita gente perdendo o sono por causa de emprego, finanças e por aí vai. Com a inflação corroendo o suado salário mensal do cidadão, há muitos buscando caminhos para driblar e sair das dívidas.

Enquanto uns saem, outros entram, aos montes, ainda mais diante de um cenário que o consumidor perdeu duramente o poder de compra. Muitas vezes, para poder fechar as contas do mês, faz empréstimo. Muitas vezes, comprou algo a mais e acabou sem saldo no fim do mês. Muitas vezes só comprou o necessário, e ainda assim o dinheiro não deu que chega. Por fim, é um CPF negativado atrás do outro.

E essa é uma realidade até mesmo de pessoas da classe média.

O fato é que a alta da inflação no Brasil e as complicações resultantes da pandemia, além dos reflexos da guerra no Leste europeu, fizeram muita gente se endividar cada vez mais, e isso fica cada vez mais caro com o aumento das taxas de juros.

No Paraná, por exemplo, 91% das famílias do Estado possuíam algum tipo de dívida no mês passado. Se comparado com março de 2021, quando 90,5% da população estava endividada, o nível atual de endividamento está mais elevado, e configura-se como o maior percentual de endividados para um mês de março da série histórica da Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), apurada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) e pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Paraná (Fecomércio PR).

No cenário nacional, a coisa não é diferente. A proporção de brasileiros endividados alcançou novo recorde em março. O percentual de famílias que relataram ter dívidas a vencer alcançou 77,5%, a maior proporção já registrada nos 12 anos do levantamento. Há um ano, essa parcela era de 67,3%, 10,3 pontos percentuais abaixo do resultado atual.

Em Marechal Cândido Rondon, os rondonenses acumulam R$ 5,1 milhões em dívidas. Cerca de 11% da população economicamente ativa do município está inadimplente. São 3,8 mil CPFs incluídos no SPC.

É claro que o cenário econômico brasileiro reflete no bolso do consumidor, tornando suas condições financeiras um motivo para grandes preocupações. Agora, é claro, também, que para chegar em um determinado nível de endividamento faltou ao cidadão educação financeira e planejamento. Uma reserva de emergência, que poderia “salvar a pátria” em um momento de aperto, lamentavelmente não é realidade para grande parte da população. Compreensível, mas…

Crise financeira e impulsividade não combinam. Se o momento pede cautela, que assim seja. Para tudo se tornar uma bola de neve é muito rápido.

Por isso, manter as contas em dia, ter cuidado com as finanças e tomar crédito conscientemente, evitando superendividamento, é fundamental na vida de qualquer consumidor. Da teoria para a prática, parece fácil, mas é difícil. Ainda assim, não custa tentar. É melhor do que correr atrás do prejuízo depois e não alcançá-lo.

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