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Arno Kunzler

Mudanças profundas

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É possível antever que a passagem do coronavírus nas nossas vidas vai deixar um rastro de lembranças, boas e ruins.

Quero fazer uma análise sucinta e despretensiosa sobre alguns pontos que vamos viver no futuro.

No âmbito internacional, que nos últimos 50 anos viveu um processo industrial agudo sob a ótica do mercado, certamente teremos grandes mudanças.

Os países perceberam como a globalização lhes deixou frágeis, quando em determinado momento não tinham onde comprar suprimentos médicos e outros insumos, se a China ou a Índia não vendessem.

Esse fato despertou pânico, expôs a fragilidade e estremeceu a segurança e a autonomia dos países, tidos como os gigantes.

Haverá novamente indústrias estratégicas sob a guarda dos países. Com certeza.

Nossos ilustres parlamentares descobriram que é possível fazer sessões do Congresso sem presença física. O que isso pode significar?

Se colocado na ponta do lápis, uma enorme economia de viagens, mordomias em hotéis e restaurantes, e mais do que isso, menos contaminação política de Brasília.

No âmbito trabalhista teremos mudanças profundas de relacionamento no mercado de trabalho.

Essas medidas emergenciais vão provar que o emprego se mantém e os salários podem aumentar, não por lei, mas pela facilidade da livre negociação.

Na medicina já estamos conhecendo as primeiras mudanças. A telemedicina, que antes era combatida, agora é reconhecida como possível.

Com certeza virão outras para ficar.

Na educação, mesmo quem era contra o ensino a distância, agora reconhece que esse método é interessante e que vai contribuir muito no futuro para baratear e facilitar o acesso das pessoas à educação.

Claro que não substitui em todos os casos, mas em muitos.

No comércio haverá um crescimento substancial do e-commerce e mais ainda da televenda, uma maneira de fazer compras que não era estimulada.

Veio para resolver as emergências, mas certamente vai ser incrementada.

Nas comunicações, nem mesmo nos processos eleitorais recentes houve tanta produção de fake news e tanta irracionalidade no compartilhamento delas.

Haveremos de encontrar um equilíbrio entre os que propagam fakes propositalmente para difamar pessoas e disseminar mentiras e os que tentam usar as mídias sociais para informar e convencer.

Talvez o mais importante que esteja reservado para o futuro são pesquisas.

O mundo se assustou com a falta de informação, a dificuldade de comunicação e a incapacidade de reação diante de um vírus.

Provavelmente os investimentos em pesquisas receberão maior apoio e descobertas fantásticas serão reveladas ao mundo com mais frequência.

As religiões tiveram que fazer missas e cultos sem a presença de fiéis e romeiros, transmitidas por televisão, Facebook e outras ferramentas, o que indica que não haverá necessidade de templos caríssimos e luxuosos no futuro.

E as famílias, separadas por força de circunstâncias, perceberam, muitas delas, o quanto é bom ficar em casa, como é bom poder receber visita ou visitar alguém.

E, por fim, empresários e empregados perderam o direito de trabalhar. Essa foi talvez a maior agressão contra um direito individual que dificilmente será esquecida por aqueles que eventualmente perderam seu trabalho ou sua empresa.

Isso também vai gerar consequências sobre até onde vai o limite de um governante.

Ele pode escolher entre não conseguir atender uma pessoa doente ou deixar uma família sem renda deliberadamente?

 

Arno Kunzler é jornalista e diretor do Jornal O Presente e da Editora Amigos da Natureza

arno@opresente.com.br

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