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Elio Migliorança

Mudanças que não vieram

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Políticos adoram duas coisas: eleitor que acredita nas promessas e vota nele e eleitor que esqueça as promessas e não fique cobrando isso durante o seu mandato. Em suma, para a maioria dos políticos brasileiros, salvo raras e valiosas exceções, o supra sumo ideal é o eleitor que tenha “memória curta”.

Não me enquadro em nenhuma delas. Não tenho memória curta e tenho o péssimo hábito de lembrar de todas as promessas de campanha, e jamais esquecer em quem votei. E meu esporte preferido é cobrar as promessas de campanha, não deixá-las cair no esquecimento e guardar planos de governo para serem confrontados com o relatório de entrega do mandato do candidato eleito.

O que tenho observado é que, cada vez mais, encontramos cada vez menos políticos cumprindo o que prometeram na campanha. A eleição de 2018 foi um marco em que todas estas questões atingiram seu grau máximo. As promessas eram tão animadoras que pareciam propostas para um país de primeiro mundo. Pregava-se a nova política, o fim do “toma lá, dá cá” e plantou-se a esperança de que agora sim, finalmente seríamos elevados a um país de categoria superior, ou seja, economia liberal, prática do livre mercado, tudo garantido pela lei da oferta e da procura, o fim da corrupção, já que a Operação Lava Jato seria quase um catecismo a ser seguido na gestão pública.

A maioria do Congresso Nacional foi renovada e as caras novas que lá chegaram eram de pessoas que nunca tinham exercido um mandato eletivo.

O tsunami político que renovou os cargos federais também se fez sentir nas Assembleias Legislativas e nas Câmaras de Vereadores.

Agora, sim, dizíamos nós, o Brasil finalmente encontrou o caminho da renovação e os nossos filhos e netos terão o futuro garantido pela nova gestão republicana. Passados três anos, somos obrigados a reconhecer que mais uma vez a aposta foi na memória curta do eleitorado, acreditando que todos tenham esquecido o que foi prometido e o pouco que foi realmente cumprido.

A operação Lava Jato já foi sepultada, gasolina a R$ 7 o litro, botijão de gás a R$ 105, a inflação chegando nos dois dígitos, vamos pagar pedágio em rodovias já construídas e pagas com nosso dinheiro e no Congresso Nacional, cuja renovação acima de 50% nos deu a esperança de um novo tempo político, vive os tempos da “sangria da roubalheira”, mecanismo batizado com a suave e meiga classificação de “Emendas do Relator”.

No processo de cooptação de parlamentares para aprovar a PEC dos Precatórios, foram disponibilizados alguns bilhões de reais para que o relator da Emenda Constitucional destinasse os recursos para os colegas parlamentares, óbvio que para aqueles que votassem a favor do projeto.

A PEC dos Precatórios é uma autorização do Legislativo para que o Executivo não precise cumprir uma decisão judicial, uma total e absurda inversão dos princípios de uma democracia sólida.

Este é o retrato do Brasil que temos, nada parecido com o que nos foi prometido. Não temos memória curta e não podemos deixar isto cair no esquecimento. Resta-nos o consolo de saber que nossos vizinhos e amigos são decentes, honestos e ainda existem veículos de comunicação que nos permitem levar este grito de alerta até os rincões mais distantes e nos ajudam a manter a esperança e a lutar por uma nova ética na política.

 

O autor é empresário rural, professor aposentado e ex-prefeito de Nova Santa Rosa

miglioranza@opcaonet.com.br

 

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