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Arno Kunzler

Muita irracionalidade…

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Estamos longe de encontrar um modelo adequado para o serviço público de saúde.

Longe porque os governos, cada um a seu modo, tentam criar suas próprias soluções.

Acontece que os governos agem mais politicamente do que racionalmente, especialmente nesta questão da saúde pública.

Ainda se valoriza mais a construção de prédios que marcam as gestões públicas que os serviços de atendimento à população.

A irracionalidade começa pela dispersão dos prédios. Vejamos o caso de Marechal Cândido Rondon.

Não bastasse a infinidade de postos de saúde sem estrutura de médicos, enfermeiras e medicamentos, agora resolveram construir uma coisa em cada lugar.

Existe o 24 Horas idealizado para ser um pronto socorro, ou seja, receber as pessoas, prestar o primeiro atendimento, fazer a triagem e encaminhá-las para os hospitais que atendiam pelo SUS, na época o Hospital Fumagali e o Hospital Rondon.

Como os hospitais pararam de atender via SUS, o município tentou criar uma solução adquirindo um hospital antigo, que desde a sua aquisição, no início do primeiro governo do prefeito Moacir Froehlich, até hoje, ainda não entrou em funcionamento, pelo menos ao que se propôs.

Razão pela qual nossos pacientes, inclusive as gestantes, são encaminhados para o Bom Jesus, em Toledo, ou outro hospital mais longe, dependendo do caso e da gravidade.

Nesse meio tempo, o Governo do Estado resolveu que deveriam ser construídas unidades de atendimento às mulheres, separadamente, e pronto, lá está a Clínica da Mulher construída no meio da Praça Willy Barth, cuja construção foi amplamente contestada pela população na época, e hoje está provado que as pessoas tinham razão de não querer o prédio ali.

Aliás, abro um parêntese para o assunto Praça Willy Barth: acho que na época passou despercebido, mas deveria ser retomada a discussão de fazer o seu tombamento, que significa que não se pode, a pretexto e tempo algum, fazer novas edificações. Nada justifica construir um prédio público dentro da praça, por maior que seja sua necessidade.

Voltando ao assunto, agora, o governo federal criou um programa para construir as Unidades de Pronto Atendimento (UPA) e lá está uma unidade construída em Marechal Cândido Rondon.

Antes mesmo de ser inaugurada, já proporcionou um debate político bem acalorado.

Enquanto a oposição quer a abertura da UPA já, o prefeito alega que levará seis meses para equipar o prédio e contratar profissionais.

Nem vamos entrar no mérito dos custos para administrar tantos lugares diferentes de atendimento, ou de falta de atendimento, se preferirem. Os pacientes de Marechal Cândido Rondon hoje já não sabem onde devem procurar atendimento e isso promete piorar.

Mas a UPA não é só para atendimento do município. Deve atender uma microrregião, e aí vem outro problema.

Como dividir os custos: por número de atendimentos ou por um rateio que leva em consideração outros custos como administrativo, etc.

Por enquanto, tudo que está sendo consorciado entre muitos entes públicos dá sinais claros de falta de governança.

Um prefeito resolve que não vai pagar a conta do mês e pronto, começa o buraco que normalmente termina onde todos nós sabemos: no Ministério Público.

A irracionalidade proposta para o serviço público de saúde só não é pior do que a irresponsabilidade dos gestores da saúde pública no Brasil.

Enquanto os políticos fazem proselitismo e sensacionalismo com a saúde pública, os pacientes que dela precisam lamentam a total falta de qualidade do serviço.

Essa é a mais triste realidade que vivemos. Talvez seja o momento de repensar, de reavaliar, se é mesmo possível fazer saúde pública com tantas cabeças e intenções diferentes.

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