Elio Migliorança
Muito além do horizonte
Há um país, muito além do horizonte, do qual ouvimos falar há mais de 500 anos, quando Pedro Alvares Cabral chegou ao Brasil procurando o caminho marítimo para as Índias. Nós fomos conhecer este país misterioso.
Conhecer a Índia é um desafio porque as informações que temos nem sempre nos mostram sua verdadeira face. Talvez o preconceito por sabermos que a vaca é sagrada na Índia e que a população está dividida em castas nos induz a pensarmos que estamos num país primitivo e parado no tempo. Puro engano. A Índia é um gigante que caminha a passos largos para uma posição de destaque no mundo.
O futuro do mundo passa também pela Índia, que, ao lado da China, será uma potência respeitada nas áreas da informática, do comércio e da ciência.
Com menos que 50% do território brasileiro, possui mais de 1,3 bilhão de pessoas. Um extraordinário mercado consumidor, com bilhões de braços produzindo e cabeças pensando.
Para quem acha que os indianos estão na idade da pedra, surpreenda-se ao saber que na área de informática são referência mundial na produção de softwares, e avançam em outras áreas do conhecimento e da produção. Mas o que logo chama a atenção por ser algo diferente das demais nações do mundo é o fato da vaca ser sagrada. É uma tradição que nasceu com o Hinduismo, cerca de 1.500 anos a.C. Está ligada às utilidades de tudo o que a vaca fornece: o leite, as fezes largamente utilizadas na adubação e a urina utilizada como repelente na agricultura orgânica, bem como a força de trabalho da vaca na agricultura. Associada a várias divindades, não pode ser morta nem ferida e tem passe livre para circular pelas ruas da cidade, como pudemos ver ao vivo e a cores. Quando morre é sepultada fora da cidade.
Com a globalização e as redes sociais abrindo espaço para debates, existem vozes discordantes que defendem o uso da carne bovina para consumo, mas por enquanto bois e vacas estão protegidos pelo princípio religioso. Para eles búfalo não é bovino e assim no ano passado exportaram mais carne vermelha do que o Brasil e a Austrália. Nada mau, já que 80% dos indianos são vegetarianos, e os carnívoros consomem frango e peixe.
Logo na chegada a Délhi, a Capital, observamos o volante dos carros no lado direito, uma herança da dominação inglesa por quase 200 anos. Empresas do mundo inteiro estão migrando para a Índia e para a China, dois gigantes que estão se transformando em “fábricas do mundo” favorecidas pela grande oferta de mão de obra e com regulamentação trabalhista baixa ou inexistente. Mais uma razão para voltarmos os olhos para o Oriente, de onde virão os produtos que consumimos.
Outro mistério desvendado foi a questão das castas, afinal, é possível existir, em pleno século 21, um lugar onde o nascimento seja determinante para o resto da vida? Há quatro castas na Índia. Os brâmanes, sacerdotes e letrados nasceram da cabeça do deus Brahma; os xátrias, guerreiros, nasceram dos braços de Brahma; os Vaixás, comerciantes, nasceram das pernas de Brahma; e os dalit ou sucras, servos, camponeses, artesãos e operários, nasceram dos pés de Brahma. O senhor Sudhanshu, nosso guia na Índia, descreveu qual a influência das castas na vida das pessoas em pleno século 21 e de que forma elas determinam seu futuro. Partilharemos isto no próximo artigo.
O autor é professor em Nova Santa Rosa
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