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Elio Migliorança

MUTILADOS DA GUERRA

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Entre as guerras no mundo, uma está no Brasil. Só que não estamos atentos a ela e não temos consciência da sua gravidade. Falo da guerra no trânsito. Ficamos chocados, e tínhamos que ficar mesmo, com as mortes no incêndio da boate Kiss em Santa Maria (RS). Mas se contarmos os mortos e mutilados pela guerra do trânsito no Brasil desde 1º de janeiro até hoje, já são mais de 300 jovens abaixo de 30 anos. Uma parte morreu e outros vão carregar sequelas para o resto da vida, alguns condenados a uma cadeira de rodas. É urgente voltar nosso olhar e atenção nesta direção. O governo deveria tomar medidas drásticas para salvar vidas e evitar gastos com tratamento médico. Está em vigor e parece que levada a sério a “lei seca”.  É bom que assim seja. Mas não é suficiente. Isso resolve parte do problema. É necessário muito mais.
Há outros males tão perigosos quanto a bebida alcoólica. Um deles é o celular. Em torno de 40% das pessoas que encontro no trânsito estão falando ao celular. A pessoa que fala ao celular e dirige está com apenas 50% ou menos de sua atenção no volante. E isso é tão perigoso quanto um bêbado dirigindo. Deve ser punido com o mesmo rigor da lei seca.
Outra causa de muitas mortes é o excesso de velocidade. Radares móveis e policiamento permanente, com punição exemplar, resolveriam esta parte do problema. Ultrapassagens em local proibido também causam muitas desgraças. Se o irresponsável que está ao volante não tem cons-ciência disso, que lhe seja tirado o direito de dirigir. E as punições devem ser aplicadas, independentes do sobrenome do condutor ou do cargo político que um tio, o pai ou um irmão possam estar ocupando. Se começarem a colocar panos quentes porque o fulano é sobrinho, filho ou amiguinho de um “figurão”, desmoraliza-se a lei e todos aqueles que devem aplicá-la.
E, para completar, não podemos esquecer-nos da grande responsabilidade do setor público, ou seja, dos governos responsáveis pela manutenção das estradas e da sinalização. Isso é causa de muitos acidentes. Aí devem ser punidos os responsáveis com o mesmo rigor que se pune o motorista irresponsável. O motorista deve ser punido pelo que fez e o governante pelo que deixou de fazer. É o pecado da omissão. Talvez a desculpa amarela do governo seja a de que faltam recursos para tal. Pois então é bom saber que um relatório do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário, feito em 2012, revelou que naquele ano o Brasil arrecadou R$ 26,9 bilhões só de IPVA, sem contar os demais impostos recolhidos apenas para o setor de conservação de estradas. No preço dos combustíveis, 50% é imposto. Que se preste contas à sociedade onde foi gasto este dinheiro. Que se coloque o exército nas ruas, afinal, em tempos de guerra, precisamos da ação militar, e assim estaremos evitando que milhares de vidas se percam ou fiquem mutiladas para sempre. É um grito de socorro de todos os pais e mães que possuem familiares andando pelas estradas do Brasil, onde, muitas vezes, o prejudicado é aquele que estava dirigindo de acordo com a lei, enquanto o assas-sino que provocou o acidente acaba livre, leve e solto. Faça sua parte. Dirija com responsabilidade.

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