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Tarcísio Vanderlinde

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Não tive sucesso em obter mais informações sobre a produção literária do padre Vicente Pedroso. Saber, entretanto, que se defrontou com a tradução da obra completa do historiador Flávio Josefo para o português já é motivo suficiente para enaltecê-lo. O trabalho de Pedroso pode ser conferido numa publicação de 1999 realizada pela Casa Publicadora das Assembleias de Deus (CPDA).

Sob o título “Advertência”, o tradutor fez uma avaliação do seu trabalho que deixou publicado junto ao texto que traduziu. Considerando que não havia mais nada a acrescentar após o término da tarefa, manifestou o desejo de que o documento não fosse lido apenas por diversão ou por curiosidade, mas que se procurasse aproveitá-lo pelas considerações úteis do que foi escrito:

“Foi esse o motivo que me levou a empreender essa tradução: do contrário, ela ter-me-ia, aos oitenta anos, feito empregar em vão muito tempo e dar-me muito trabalho numa idade na qual só devemos pensar em nos preparar para a morte”.

Alguns destaques apresentados por Pedroso são curiosos e permitem uma dica oportuna a quem se atrever a navegar pela obra completa de Josefo.

Ao elogiar o estilo literário e conciso de Josefo, Pedroso ressalta que sua tradução se pautou fielmente no original grego, e critica um trabalho anterior de Erasmo de Roterdã. Para ele, o “príncipe dos humanistas” teria inventado nomes que não se encontram nem em Josefo e nem na Bíblia.

Para Pedroso, no conteúdo da história da guerra dos judeus com os romanos, Josefo não poupou ornamentos que objetivavam enriquecer o texto. Não perdeu nenhuma ocasião de embelezá-lo ao descrever o cenário onde se deram os conflitos. Ao descrever cenários de guerra, Josefo se ateve a explicar paisagens e edificações com sutileza e sensibilidade.

Segundo Pedroso, Josefo realizou “descrições admiráveis de províncias, de lagos, de rios, de fontes, de montanhas, de diversas raridades e de edifícios, cuja magnificência passaria por uma fábula, se o que diz pudesse ser posto em dúvida, não houve ninguém que houvesse contradizê-lo, embora a excelência de sua história tivesse suscitado contra ele tanta inveja”.

Sem omitir momentos de decadência moral e apostasia na história dos judeus, Pedroso observa que o aspecto mais estimável em Josefo teria sido o de um historiador que não teria deixado de “abordar e de louvar a virtude, de estigmatizar o vício e de fazer reflexões excelentes sobre o adorável proceder de Deus e sobre o temor que se deve ter de seus juízos rigorosos”.

 

O autor é professor sênior da Unioeste

tarcisiovanderlinde@gmail.com

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