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Dom João Carlos Seneme

Não vos deixarei órfãos. Eu virei a vós. Guardai os meus mandamentos

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Há alguns domingos estamos acompanhando a manifestação do Cristo ressuscitado. Com a aproximação da volta de Jesus ao Pai, o evangelista São João nos recorda a missão cristã, que consiste em traduzir em nossas vidas o agir do Cristo da Páscoa. Por isso, hoje a atenção se desloca de Cristo ao Espírito Santo, dom do ressuscitado: “Eu pedirei ao Pai e Ele vos enviará o Espírito da Verdade, o Paráclito, para que fique eternamente convosco”. Através do que chamamos de discurso de despedida de Jesus (Jo 14-17), os cristãos de ontem e de hoje são investidos do Espírito de Cristo e são chamados a transformar o mundo. Nós somos imagens de Cristo; somos a presença do ressuscitado. Por isso, a igreja deve constantemente se adaptar às realidades do mundo; caso contrário, como podemos afirmar que Cristo está vivo em seus discípulos hoje?Hoje, o Evangelho nos coloca no cenáculo onde Jesus celebrou a última ceia com os seus discípulos: lugar de intimidade em que Jesus revela a sua glória que acontecerá na cruz. Ali Ele ensina e manifesta o seu amor pelos discípulos e pela humanidade inteira. Nós também somos convidados a sentar à mesa com Jesus para receber o seu mandamento e entrar junto com Ele na sua Paixão e Ressurreição. Vamos escutar também Jesus prometendo que não nos deixará órfãos, o Espírito Santo estará conosco e será o nosso defensor. Ele ensinará todas as coisas e acompanhará cada passo, cada atitude. O Espírito de Deus vem como força do alto para auxiliar o testemunho dos apóstolos e o nosso. Os seguidores de Jesus, depois da Páscoa, fizeram uma experiência viva e intensa do Espírito Santo como consolador, defensor, aliado, nas dificuldades externas e internas, nas perseguições, nos processos, na vida cotidiana. Nos Atos dos Apóstolos lemos: “A igreja crescia e caminhava no temor do Senhor, cheia de consolação do Espírito Santo” (At 9,31).O amor a Jesus se manifesta no amor aos irmãos. Este é o mandamento novo: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”; é a nossa identidade como discípulos missionários. O amor a Jesus nos coloca diretamente relacionados à observância dos seus mandamentos: se não há observância dos mandamentos, significa que não amamos Jesus. O dom do Espírito Santo, da parte do Pai, é fruto deste amor e sua observância: amor e obediência. Agora é momento de nos perguntar: e nós, o que fazemos? Por que continuamos a agir, a caminhar sem esperança? A vinda do Espírito Santo no dia de Pentecostes deveria provocar em nós um renascimento, de modo que aprendamos a recorrer sempre ao Espírito Paráclito, aquele que vem em nosso socorro, nos defende, nos consola. Muitas vezes buscamos em tantos lugares e descobrimos que não somos felizes e muito menos livres: riquezas, prazeres, poderes. Coisas que garantem conforto momentâneo e passageiro. Só Deus pode nos garantir a felicidade eterna. Ela é dom para quem crê e molda sua vida no seguimento de Jesus Cristo animado pela vida nova, dom do Espírito Santo. “Bendito seja Deus” – escreve São Paulo – “Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, Pai compassivo e Deus de todo consolo, que nos consola em qualquer tribulação, para que nós, por força do consolo que recebemos de Deus, possamos consolar os que sofrem qualquer tribulação” (2Cor 1,4). Nós devemos ser como paráclitos para nossos irmãos, pessoas que sabem aliviar a aflição, confortar a tristeza, ajudar a superar o medo e dissipar a solidão. Estamos prestes a celebrar a ascensão do Senhor e Pentecostes (nos próximos domingos). Vamos transformar estes dias em uma preparação humilde e sincera, lendo, cada dia, uma pequena passagem nos capítulos 14-17 do Evangelho de São João. O capítulo 17, em particular, uma longa oração que Jesus faz ao Pai em nome dos discípulos, pode dar-nos boas razões para reafirmar nossa confiança: a oração de Jesus é o fundamento da nossa esperança.
* O autor é bispo da Diocese de Toledo
revistacristorei@diocesetoledo.org

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