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Elio Migliorança

NAZARENO

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A palavra “nazareno” evoca várias lembranças, que podem ter origem em imagens ou leituras que fizemos no passado. De forma abrangente, “nazareno” poderá ser o gentílico aplicável a qualquer pessoa nascida ou moradora da povoação de Nazaré. Costuma ser utilizado para se referir ao mais conhecido habitante da antiga Vila de Nazaré, na Galileia, cerca de cem quilômetros ao Norte de Jerusalém, a que a Bíblia chama de Jesus, bem como aos seus seguidores. Porém, os mais chegados a programas de humor na TV podem lembrar do personagem interpretado por Chico Anísio, de nome “nazareno”, que contracenava com a atriz Leila Miranda, que no programa se chamava Sofia e fazia o papel da esposa desprezada e humilhada pelo marido, o qual só tinha olhos para a empregada. Mas os brasileiros devem neste momento voltar seus olhos para outro “nazareno”, uma versão piorada de todos os nazarenos anteriores. Trata-se do deputado federal Nazareno Fonteles, do PT do Piauí, que apresentou a Proposta de Emenda Constitucional de nº 33, conhecida como PEC 33, a qual visa, se aprovada, submeter à aprovação do Congresso Nacional as decisões da mais alta Corte do Judiciário Brasileiro, o Supremo Tribunal Federal(STF). Conhecendo como os brasileiros esclarecidos conhecem o Congresso Nacional, tal proposta é para deixar a todos abismados. Ou como manifestou o procurador-geral da República, Dr. Roberto Gurgel, que se disse “perplexo” com a aprovação do projeto na Comissão de Constituição e Justiça. E para ficar ainda mais preocupado, é bom saber que dois mensaleiros condenados pelo mesmo STF que estão tentando enquadrar, estavam entre os votantes que ajudaram a aprovar aquela proposta na Comissão. Trata-se de José Genoino e João Paulo Cunha.
Já é um retrocesso gigantesco a PEC 37, aquela que tem por objetivo tirar da esfera do Ministério Público o poder para investigar, principalmente os crimes de colarinho branco e os crimes envolvendo corrupção, batizada merecidamente de PEC da Impunidade. Com maioria absoluta, o partido do governo quer semear a confusão neste país, colocando as decisões do Judiciário sob controle do Congresso Nacional, um Congresso que, bovinamente guiado a verbas e nomeações, aprova até o fim da lei da gravidade se isto lhe for solicitado. É uma encruzilhada perigosa da história nacional, quando alguém propõe criar leis que beneficiam determinado grupo que se encontra no poder. É uma iniciativa tão perigosa que pode transformar este país num manicômio institucionalizado, onde a fronteira entre o racional e o absurdo pode ter a largura de um fio de navalha. Considerando que o Congresso Nacional é o latifúndio humano mais improdutivo do planeta, em que a medição da produtividade em qualquer escala que seja utilizada, o resultado será igual à temperatura no Polo Norte, muito próxima de zero.
O deputado Nazareno, com sua proposta idiota, encaixa perfeitamente na frase popular, cujo autor não sei quem é, mas que eu gostei: os idiotas estão cheios de certezas enquanto os inteligentes estão cheios de dúvidas. O texto apresenta três Nazarenos: o primeiro é um santo, o segundo é uma piada e o terceiro é um idiota que quer agradar uma quadrilha.

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