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Dom João Carlos Seneme

Ninguém tira a minha vida; Eu a dou livremente

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A liturgia do Domingo de Ramos, também chamado Domingo da Paixão, ilumina o nosso caminho quaresmal através da proclamação de dois evangelhos, ambos de São Marcos. No mesmo dia somos convidados a reviver a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém e acompanhar os últimos momentos de sua vida. Com esta celebração entramos na grande semana que dá sentido à nossa fé, a Semana Santa.

Na primeira parte participamos da Procissão dos Ramos. São Marcos narra a recepção alegre e festiva que o povo de Jerusalém dá ao Messias-Salvador. No homem sentado em um jumentinho, a multidão reconhece o Rei Messias e proclama: “Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor. Bendito seja o que vem”.

Depois vamos acompanhar a longa leitura da Paixão que relata que os gritos de alegria dos peregrinos se transformam em gritos de ódio: “Crucifica-o” (15,13). Não há aqui uma contradição, mas o coração do mistério. O mistério que se quer proclamar é este: Jesus se entregou voluntariamente à sua Paixão; não se sentiu esmagado por forças maiores do que Ele: “Ninguém tira a minha vida; Eu a dou livremente” (Jo 10,18). Foi o próprio Jesus que acolhendo a vontade do Pai, compreendeu que havia chegado a sua hora e, obedientemente, cumpriu o seu papel de Filho e, com infinito amor, aceitou o destino que lhe era reservado: morrer na cruz para salvar a humanidade.

São Marcos nos convida a seguir o Senhor, não somente na acolhida triunfal na entrada da cidade, mas, acima de tudo, no Gólgota, até a cruz. É ali que Jesus grita ao céu: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?”. Não é um grito de desespero, mas de vitória. Naquele instante Ele faz a oferta de si mesmo ao Pai e ao seu plano salvador. Abandonando-se nas mãos de Deus, Jesus realiza o sacrifício supremo de si mesmo e garante, assim, a salvação da humanidade. A segunda leitura da missa expressa com muita propriedade este gesto de amor ao Pai e à humanidade: “Jesus Cristo, existindo em condição divina, não se apegou ao ser igual a Deus, mas Ele esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo, fazendo-se semelhante aos homens. Encontrado com aspecto humano, humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz” (Fl 2,6-8).

De outro lado, não podemos esquecer os motivos que levaram Jesus à morte: motivos religiosos e políticos, traição de Judas, apóstolo que partilhava de sua vida e fé, e dos outros discípulos, que foram incapazes de permanecer com o Mestre até o fim. O medo foi maior. Durante a narração da Paixão, Jesus, segundo São Marcos, permanece calado. “O silêncio do Senhor denuncia a maldade daqueles que o condenam à morte. O silêncio de Jesus revela também a sua compreensão de que no desfecho dramático da sua existência terrena se realiza o desígnio de Deus. Do ponto de vista humano, a paixão de Jesus é dolorosa e escandalosa, mas, do ponto de vista teológico, a Paixão do Senhor é positiva, pois ela é a manifestação mais completa do imenso amor de Deus pela humanidade” (cf. A Bíblia dia a dia, Paulinas).

Neste domingo (29) somos convidados a realizar o gesto concreto da Campanha da Fraternidade através da oferta de doações em dinheiro na Coleta da Solidariedade. É um sinal real de amor, partilha e solidariedade, feito em âmbito nacional, em todas as comunidades cristãs católicas, paróquias e dioceses. A Coleta da Solidariedade é parte integrante da Campanha da Fraternidade, ela deve expressar o empenho quaresmal de conversão. Por meio deste gesto concreto, a Igreja dá um testemunho de fraternidade e aponta o caminho cristão da partilha (cf. At 2,45) para a superação das grandes desigualdades presentes nas estruturas da sociedade brasileira. Todas as doações financeiras realizadas pelos fiéis farão parte do Fundo Nacional de Solidariedade.

 

* O autor é bispo da Diocese de Toledo

 

revistacristorei@diocesetoledo.org

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