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Silvana Nardello Nasihgil

Nossas carências precisam ser resolvidas

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É difícil entender a urgência que certas pessoas têm em encontrar um par. Vivem como se o único objetivo fosse ter alguém para chamar de seu. Isso faz com que passem a vida se sentindo pela metade, como se sem alguém nada fizesse sentido.
Esse tipo de comportamento carrega consigo um sofrimento imensurável, colabora para despejar litros de lágrimas e coleciona infinitas horas se insônia. Tudo isso porque quando se coloca a felicidade na vida em pares, no colo do outro, certamente o sofrimento é inevitável.
Dificilmente alguém começa a vida buscando ser inteiro, se amando, vivendo a felicidade de fazer escolhas que edificam e criam uma história de superações e vitórias.
Raras são as pessoas que se conhecem, que sabem como fazer o melhor para si, que sabem dos seus limites, que criam possibilidades diárias onde caiba a paz, que se olhem e se vejam como alguém que está no mundo para ser feliz e que acreditam que a felicidade não depende de um par.
Muitos são os que crescem e vivem buscando por alguém, desejando e exigindo da vida um par. Vivem sem critérios e vão se colocando na vida de outra pessoa, tentando caber aonde não cabem, forçando um espaço, tendo a sensação de que ter um par é uma questão de vida ou morte.
Se faz necessário para o bem da nossa saúde mental e do futuro que a gente aprenda que o que nos salva como seres humanos é o amor próprio, o valor que atribuímos à nossa vida e como cuidamos de todos os detalhes do nosso existir.
As nossas carências precisam ser resolvidas. Elas são demandas internas que não cabem a terceiros resolverem por nós. Incluir alguém na vida por mera carência e por falta de amor próprio é um desastre. Essa será uma relação movida por ciúmes, cobranças, dominação, subcomissão, tanto faz, será baseada no uso e na utilidade e, na maioria do percurso, por comportamentos destrutivos.
Então, a gente precisa prestar atenção nas relações que vivemos, nas razões que nos fazem ficar.
Precisamos parar de deixar alguém chegar do nada, sem critério algum, que mal chegou já tomamos posse, nos tornamos donos (donas), ou permitimos que se aposse de nós.
Muitas relações vivem o desculpar eterno de todos os defeitos, mesmo os inaceitáveis. Seguem-se aos tropeços por medo de tomar posição necessária, falar o que é preciso, por puro medo de perder, deixar ir o que na maioria das vezes nunca nos pertenceu.
As relações têm começado na cama e, mesmo depois de meses, um sabe muito pouco do outro.
A sexualidade é um quesito importante na relação de pares, mas quando dois se juntam por essa razão e usam o tempo juntos para viver de sexo, não estão construindo absolutamente nada que possa durar. Uma relação acima do sexo precisa do diálogo para sobreviver e para criar laços duradouros.
Quanta gente está no lugar errado, com uma pessoa nada a ver, forçando um relação emocionalmente inexistente, chamando de presente de Deus, jurando amor eterno, quando acabou de conhecer?
Quanta gente não se permite ser conhecida e não faz movimento algum de conhecer o outro?
Quanta gente esquece que tem valor e se joga de qualquer jeito em histórias que não lhe cabem?
Quanta gente vive para simplesmente preencher a carência sem a mínima compreensão do que é uma relação verdadeira?
É… muitos vivem sem saber para onde ir, sem rumo e sem projeto, vão permitindo qualquer um chegar e ficar, qualquer pessoa, de qualquer jeito, e isso traz sofrimento de toda a natureza.
Façamos uma pergunta bem básica: por que esse comportamento está tão presente nos nossos dias? Resposta bem simples: porque as pessoas estão deixando de se amar e estão extremamente carentes.
Essa carência abstrai a razão e move os instintos, e assim a vida segue sem rumo. O que poderia ser incrível será sofrimento.
É passada da hora de cada um olhar para si e se perguntar: como estou vivendo e permitindo ser tocado emocionalmente? Como tenho levado a vida, a sério ou só brincado e deixando acontecer de qualquer jeito?
As respostas obtidas com essas perguntas nos darão as respostas para que possamos escolher: continuar aonde se está ou fazer as mudanças necessárias.
Diante de tudo isso, é necessário se perguntar: dá pra ser feliz sozinho(a)? Simmmm, dá! E dá muito mais certo sozinho (a), bem resolvido (a), se construindo e se amando, tomando conta de si. Dá infinitamente muito mais certo do que acompanhado (a) de qualquer jeito.
Na verdade, antes de encontrar um par, antes de incluir alguém na vida, se faz necessário aprender a viver só, gerir a própria vida e fazer escolhas que valorizem e engrandeçam o existir.
Se alguém tem dificuldade de viver só, como acredita que pode incluir outra pessoa?
Precisamos pensar sobre tudo isso, buscarmos por mais equilíbrio, autoestima, construirmos projetos futuros, usarmos o tempo para crescermos como seres humanos, cultivarmos o amor dos amigos, a proximidade da família, nos envolvermos com os estudos, investirmos no trabalho… buscarmos ser inteiros. Como diz o padre Fábio de Melo: “namore-se, se der certo namore com alguém.”
Depois de tudo isso muito bem resolvido, só então poderemos pensar em acrescer alguém. A gente precisa deixar a casa arrumada pra receber visitas. Vida que segue, e precisa seguir! Que seja incrível!

Silvana Nardello Nasihgil é psicóloga clínica com formação em terapia de casal e familiar (CRP – 08/21393)
silnn.adv@gmail.com

 

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