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Elio Migliorança

NÚMEROS PARA CONFUNDIR

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Em tempos de terremoto para o governo por conta dos escândalos que não param de crescer, entre os quais só nas compras da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, e da Suzano Petroquímica, no Brasil, foram pagos quase R$ 7 bilhões, embora o valor real não chegasse a R$ 2 bilhões, há uma tentativa desesperada para divulgar um pacote de bondades e com isso reverter esta onda negativa e mal assombrada. Mas o que saltou aos olhos na divulgação dos números foi o assalto ao bolso de quem trabalha, a falta de respeito com quem já trabalhou a vida inteira, a vantagem para os que não trabalham e a generosidade com os amigos que vão passear na Copa do Mundo. Segundo dados oficiais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a inflação em 2013 foi de 5,91%, mas a correção da tabela do Imposto de Renda será de 4,5% para valer só no ano que vem. Como a correção foi menor que a inflação, no ano que vem todos vão pagar mais imposto de renda. O aumento para os aposentados foi de 5,7%, abaixo da inflação, assim todos ganharão menos. É a sacanagem contra quem trabalhou a vida inteira, pagou a previdência social e agora o benefício encolhe a cada reajuste. No entanto, o aumento da Bolsa Família será de 10%, portanto bem acima da inflação. As vantagens são maiores para quem não trabalha, pois ao reajustar os benefícios para os trabalhadores a generosidade palaciana foi mais modesta. Mas na hora do presente aos mais chegados, o estômago virou coração, pois o aumento do valor das diárias para servidores da administração pública federal direta, autarquias e fundações, aí incluídos militares e colaboradores eventuais foi de até 100%. É aí que mora o perigo. Além do aumento absurdo, os servidores poderão convidar amigos e parentes, neste caso, intitulados “colaboradores eventuais”, para viajar para assistir aos melhores jogos, e o mais gracioso é que será por nossa conta. Por conta de toda esta gastança desenfreada, os recursos necessários para atender a população são cada vez mais escassos. Os prefeitos brasileiros estão marchando de novo sobre Brasília para reivindicar mais recursos. Hospedados em big hotéis, jantando em restaurantes caros, estarão lamentando a miséria municipal. Recentemente foram distribuídos caminhões, retroescavadeiras e patrolas para os municípios. Há uma contradição neste processo. Primeiro o governo federal vai diminuindo a receita dos municípios pela famosa e sacana desvinculação de receitas e quando o município estiver com a corda no pescoço, serão consolados com máquinas e equipamentos. Nem sempre o equipamento é a prioridade municipal. Se houvesse mais recursos, o prefeito compraria o que mais lhe conviesse. E se a prioridade fosse realmente a máquina, ela poderia ser comprada na região, e o dinheiro movimentaria a economia regional. Assim são compradas milhares de máquinas, o lucro fica e gera desenvolvimento nos grandes centros e pelo volume da compra a tentação da corrupção é bem maior. O resumo da ópera ficou assim: quem produz vai pagar mais imposto, quem está usufruindo da aposentadoria por ter dedicado a vida ao trabalho vai ganhar menos, quem não trabalha vai ganhar mais com aumento acima da inflação e para os que vão passear o maior presente com aumento de até 100% no valor das diárias. É o verde amarelo fazendo a festa. 
* O autor é professor em Nova Santa Rosa
miglioranza@opcaonet.com.br

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