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Arno Kunzler

O Ciclo do Corporativismo

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As disputas no cenário econômico e político dos próximos anos, segundo importantes avaliações, não serão mais entre capitalismo x comunismo – direita x esquerda – ou de regiões ou países contra países. As disputas serão corporativas. Ou seja, teremos um período pela frente em que as pessoas não vão se importar com um governo honesto e nem que seu município esteja bem. Eles vão se importar com a sua situação.

Se for agricultor, a classe vai brigar para que seus representantes, sejam sindicais, sociais ou políticos, defendam mais investimentos, juros subsidiados e melhores condições para ganhar dinheiro produzindo.

Se for funcionário público, vai exigir do seu sindicato que lute por vantagens, sejam salariais, aposentadorias especiais ou auxílio, para seus representados.

Se for funcionário de uma estatal como a Petrobras, Banco do Brasil ou Itaipu, por exemplo, vai lutar para incluir no plano de carreira, vantagens que os trabalhadores comuns não têm.

Assim, vamos ver intensas lutas entre corporações, cujo objetivo é “sobreviver” dentro de uma escala onde quem pode mais chora menos.

É possível perceber, por exemplo, que a maioria dos nossos políticos já desencadeou essa luta corporativa há muito tempo. Eles podem ser adversários ferrenhos na sua cidade, mas na hora de votar suas vantagens, todos votam juntos em favor deles mesmos.

Também é possível perceber que os políticos votam a favor dos grupos dos quais recebem melhor reciprocidade eleitoral.

Então, não nos enganemos, nessa luta inglória, quem se envolve mais, quem oferece mais, quem participa mais, vai levar vantagem. Quem se omite e acha que as coisas vão acontecer por conta das circunstâncias, vai ser sufocado pelos interesses corporativistas.

Senão vejamos. Se a sociedade não reagir, os que têm poder de decisão vão decidir sempre a seu favor.

Podemos achar justo ou injusto, mas vamos pagar a conta daqueles que souberam se beneficiar melhor, daqueles que souberam negociar melhor ou daqueles que fizeram valer o poder, como é o caso dos políticos, dos magistrados, das polícias etc…

Em alguns Estados, como o Rio de Janeiro, por exemplo, desembargadores se aposentam com mais de R$ 500 mil e a Corte alega que esse é um direito adquirido.

Como eles conseguem isso? Agindo de forma corporativa. É desonesto? Talvez.

É moralmente correto? Talvez não.

Mas é legal? Certamente sim. Sob a ótica deles sim, sob a ótica da lei que eles criaram cautelosamente, de caso pensado, também.

E como se tornou legal alguém se aposentar com mais de R$ 500 mil?

Um grupo agindo corporativamente, sob a desatenção de muitos, conseguiu para eles próprios o que nenhum trabalhador normal consegue… Sem ter contribuído para isso e, pior, sem merecer o que o povo é “condenado” a pagar para o resto da vida.

 

* O autor é jornalista e diretor do Jornal O Presente

arno@opresente.com.br

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