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Elio Migliorança

O “COMPLEXO DO ALEMÃO” COMEÇA AQUI

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Acompanho par e passo cada movimento das forças de ocupação daquele conjunto de favelas no Rio, e como a TV está na sala, a riqueza de detalhes com que a ação é apresentada me dá a impressão de que tem bandido fugindo para a cozinha, quartos, banheiro, despensa e quintal, e soldados de “tocaia” atrás de cada porta, sofá e debaixo das camas. O que para mim é apenas uma brincadeira imaginária, para os milhares de moradores que sentem na pele e alguns na carne com balas de verdade, devem ser horas de terror, angústia e ódio por terem as autoridades deixado a situação chegar a tal ponto. Enquanto assistia e ficava sensibilizado pela situação que vivem aquelas famílias, surgiu a pergunta: afinal, por que “complexo do alemão”? Seria um nome adequado para um bairro em Marechal Rondon, cheio de alemães, mas logo no Rio de Janeiro, onde no “morro” o que menos se viu foram alemães, o nome parece não combinar. Fui à pesquisa e descobri que aquela favela, considerada uma das mais populosas do Rio, era uma enorme fazenda até o final dos anos 40. Seu primeiro proprietário foi um imigrante polonês, muito alto e branco e de fala enrolada. Por causa de sua aparência, os moradores da região passaram a se referir ao dono das terras como “alemão”. Quando a favela foi avançando morro acima, o nome foi incorporado ao povoado que se formava, primeiro como “morro do alemão” e, posteriormente, com a “favelização” da região, passou a ser denominado “complexo do alemão” porque a região é composta por um grupo de 16 favelas com 400.000 habitantes. Vários fatores foram os responsáveis por ter a situação chegado a este ponto. A omissão de sucessivos governos estaduais, que não deram a devida atenção ao problema quando denunciado que os criminosos estavam se organizando; o envolvimento de autoridades com o crime, do qual se beneficiavam com o financiamento de campanhas políticas; a convivência harmoniosa dos poderes constituídos com os bicheiros e outros profissionais de atividades ilegais, os quais eram até homenageados por financiarem o carnaval que atraía turistas e arrecadação para os cofres públicos; a falta de punição exemplar toda a vez que se descobria a associação de autoridades com a criminalidade; a politização das polícias civil e militar, onde cargos são preenchidos segundo critérios políticos, enquanto o correto seria que fosse por competência, seriedade e tempo de serviço. Secretarias de Segurança Pública deveriam ser entregues a profissionais de carreira da esfera policial. E agora vem a constatação mais assustadora: o grande polvo da criminalidade, cuja cabeça está lá no Rio, tem os tentáculos estendidos em todas as direções e os mais vigorosos estão estendidos até a nossa região, formando os canais que abastecem de armas e drogas aquela freguesia. Nossa região está contaminada, o crime está mais organizado do que se imagina e a fiscalização ainda é insuficiente para a quantidade de ilegalidades que acontecem por aqui. Da mesma forma que lá, também cá deviam as fronteiras ser fiscalizadas pelas Forças Armadas.

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