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Elio Migliorança

O ELEFANTE E O BEIJA-FLOR

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Vivemos um momento raro e oportuno no Brasil. É necessário não perder a onda. As pessoas estão criando coragem para protestar, para se manifestar, para exigir decência de todos os responsáveis pela sociedade. A cada dia, novos fatos são revelados e as pessoas utilizam os meios de que dispõem para manifestar sua indignação e raiva contra a prepotência de quem ocupa um cargo e o utiliza em beneficio próprio. Isto é altamente positivo. Ter consciência dos seus direitos e exigi-los é uma questão de cidadania. É preciso não temer as represálias.
A omissão das autoridades responsáveis poderá criar o caos em setores essenciais à vida da população, e por isso é nossa obrigação cuidar para que a sociedade que nossos filhos herdarão seja uma sociedade mais justa e mais humana. Tem aquela fábula do incêndio da floresta. Os animais fogem assustados, mas o frágil beija-flor voa até o rio mais próximo, enche o biquinho de água e corre a despejá-la sobre o fogo. E continua nesse vai e vem tentando conter o incêndio. Claro que não conseguiu. Depois da floresta ser consumida pelo fogo, enquanto o beija-flor, quase morto de cansaço, recupera-se sobre uma árvore, o elefante que passava por ali olhou para o alto e o interpelou: e daí bobalhão, de que adiantaram aqueles pingos de água sobre o fogo? Ao que o beija-flor prontamente retrucou: pois é, eu fiz a minha parte, e se todos os animais tivessem feito a sua, talvez o fogo pudesse ser contido.
Pois é, nossa realidade tem semelhança com a fábula do incêndio na floresta. As ações de cada um sozinho podem não representar muito. Mas se nos unirmos, cada um com os meios de que dispõe, podemos fazer a diferença. Os elefantes são os governos: federal, estadual e municipal. São enormes, nos assustam, acham que podem tudo. Mas nós unidos somos maiores que eles. Por exemplo, no recente episódio em que um deputado dirigindo bêbado, a uma velocidade maluca, matou dois jovens no trânsito curitibano. O depoimento das testemunhas que não se acovardaram, mas revelaram os fatos, a figura daquela mãe gritando por justiça, a cobertura dos meios de comunicação, a manifestação de solidariedade de milhares de pessoas, a denúncia da conivência do Detran, que não prendeu a carteira cassada por tantas infrações, juntas estas ações estão fazendo a diferença. O ato de pedir nota fiscal ao comprar uma mercadoria, não aceitar que alguém fure a fila na sua frente e não admitir ser mal atendido numa repartição pública são atitudes que ajudarão a construção da cidadania, que farão as pessoas respeitarem cada um porque são seres humanos e não pelo sobrenome que carregam.
Aquelas plaquinhas colocadas nas repartições públicas alertando que “agredir funcionário público é crime” não deve nos amedrontar e aceitar um mau atendimento. Agredir significa um tapa, um pontapé, uma paulada na cabeça. Exigir atendimento cordial, eficiente e adequado é direito do contribuinte. Afinal, o próprio nome “funcionário público” revela que ele é pago com nosso dinheiro, portanto, com direito a um atendimento decente.
Seja como o beija-flor, faça a sua parte. Não abra mão do seu direito de ser cidadão.

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