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Elio Migliorança

O ESPELHO DE NOSSO FUTURO

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Em 2002 mergulhei em território argentino, numa longa viagem percorrendo os principais pontos turísticos do centro e Sul do país. Voltei encantado com a simpatia, cordialidade e hospitalidade dos “hermanos” para conosco, concluindo que nossas diferenças se resumem à disputa esportiva. Mais importante ainda foi constatar o progresso e a estabilidade econômica do país. A estabilidade e a força da economia Argentina eram visíveis especialmente nas praias brasileiras, de forma especial nos cartórios de Balneário Camboriu, onde centenas ou quiçá milhares de imóveis foram arrematados pelos “hermanos”. O país vivia a euforia econômica no governo popular do presidente Eduardo Alberto Duhalde, que governava ao estilo de Carlos Menem, de quem fora vice-presidente no primeiro mandato de 1989 a 1994. Quem viu a pujança econômica de então precisa fazer um esforço para entender porque o país está navegando nas águas turvas da crise atual. Mas não é difícil. Um governo populista que não se preocupa com infraestrutura e ações para garantir a estabilidade do setor produtivo, fatalmente criará condições para o desastre futuro. Na verdade a crise foi consequência dos dez anos do governo Menem.
Estamos no Brasil e vivendo uma situação aparentemente privilegiada de moeda forte e produção em alta. Engana-se quem acha que a situação está sob controle e o futuro está garantido. Em recente artigo neste espaço fiz um comentário dizendo que havia uma crise na supersafra. A gravidade da situação aumenta a cada dia que passa. Há milhões de agricultores com produtos estocados, esperando um preço melhor para vender o produto. E as perspectivas não são animadoras. Nos meses de maio e junho vencem os financiamentos agrícolas. Será necessário muito mais produto para receber muito menos dinheiro. Ninguém quer vender com prejuízo e os bancos querem e precisam receber. Estamos sentados sobre um barril de pólvora prestes a explodir, e ele chama-se endividamento rural.
A quebradeira pode gerar um efeito dominó. Uma crise sem precedentes pode se abater sobre o Sul do Brasil, a região que mais produz alimentos. Porque com a agricultura quebrada, sofrem todos os setores da economia. O drama vivido pelos argentinos nos últimos tempos pode ser o espelho do nosso futuro próximo. Os otimistas dizem que a economia brasileira é forte e que o país tem potencial para superar todas as crises. Pode ser. Os argentinos também diziam isso e, pior, acreditavam no que diziam. E hoje pagam caro por isso.
Enquanto isso, nosso presidente viaja pelo mundo, intermediando conflitos sem solução e financiando obras pelo continente afora. Parece aquele “caixeiro viajante”, que, cansado de carregar a mala cheia, deseja esvaziá-la o mais rápido possível, mesmo que depois a família passe fome. A decisão mais inteligente para o momento é fazer as dívidas que se tem certeza conseguir pagar, sem depender dos humores do comércio internacional, que fixa preços conforme seu interesse e não conforme a necessidade de quem produz.

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