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Dom João Carlos Seneme

O homem não vive só de pão, mas de toda palavra da boca de Deus

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Com a celebração da Quarta-feira de Cinzas iniciamos o tempo da Quaresma que termina na Missa da Ceia do Senhor (Quinta-feira Santa). A Quaresma não tem sentido em si mesma, seu objetivo é nos preparar para a grande celebração da Páscoa do Senhor. Por isso é um período que privilegia a escuta da palavra de Deus, a conversão, a memória do batismo, a reconciliação com Deus e com os outros. Um tempo forte, porque somos colocados à prova “como se purifica a prata”: não para cair nas ciladas do mal, mas para entender quem somos e para onde caminhamos.

Três atitudes fundamentais nos acompanharão durante a Quaresma: a oração, o jejum e a esmola. A oração nos ajuda a adentrar no nosso próprio interior e ouvir a voz de Deus. O jejum nos faz mais simples e humildes, conscientes de nossas fragilidades e mais compreensivos com as fraquezas dos outros. Enfim, a esmola – caridade – nos coloca em sintonia com nossos irmãos, de modo particular, os mais pobres. Este pedido de ascese ajuda cada pessoa a buscar o que é essencial para viver; esvaziando-se para deixar espaço para Deus e os irmãos. É urgente fomentar uma “cultura da austeridade, da comunhão, da partilha”, se não queremos nos desumanizar, nem desumanizar o planeta. A ascese nos coloca na direção da solidariedade; o ordenamento de nossos desejos nos permite escutar os desejos dos outros.

Neste primeiro domingo, também chamado Domingo das Tentações, Jesus se prepara para iniciar sua missão e o texto evangélico quer enfatizar que não será uma tarefa fácil. Por isso, Jesus é conduzido ao deserto, lugar de provação e, ao mesmo tempo, de revelação da misericórdia de Deus. Foi no deserto que o povo de Israel experimentou o amor e a solicitude de Deus e foi ali que Deus propôs a Israel uma Aliança. Contudo, o deserto é também o lugar da “prova”, da “tentação”; foi no deserto que Israel foi confrontado com opções e foi no deserto, também, que Israel sentiu, várias vezes, a tentação de escolher caminhos contrários aos propostos por Deus. Jesus vence a tentação, mas ela voltará na paixão. Na cruz, a fidelidade de Jesus vencerá, porque o amor do Pai fará o Filho – e todo aquele que crê – atravessar a morte. A ressurreição é o canto da vitória divina sobre o tentador, inimigo de Deus e inimigo da humanidade. 

A Igreja do Brasil realiza durante este período a Campanha da Fraternidade como caminho de conversão. Com o tema “Fraternidade e Políticas Públicas” e lema “Serás libertado pelo direito e pela justiça” (Is 1, 27), a Campanha da Fraternidade 2019 quer ajudar a estimular a participação em políticas públicas, à luz da palavra de Deus e da doutrina social da igreja para fortalecer a cidadania e o bem comum, sinais de fraternidade. A política pública atinge a vida cotidiana de todos. São ações discutidas, decididas, programadas e executados em favor de todos os membros da sociedade. É o governo em exercício quem executa, porém elas pertencem ao Estado e são permanentes. Os mais atingidos são os pobres, por isso as políticas públicas podem ser consideradas obras de misericórdia. Participar da discussão, elaboração e vigilância é ajudar a construir uma verdadeira fraternidade e resgatar a dignidade de irmãos e irmãs.

Peçamos para Maria, nossa Mãe, que nos acompanhe neste retiro espiritual em preparação à Pascoa de Jesus e nossa.

 

Dom João Carlos Seneme é bispo da Diocese de Toledo

revistacristorei@diocesetoledo.org

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