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Dom João Carlos Seneme

“O QUE DEUS UNIU, O HOMEM NÃO SEPARE”

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Na liturgia deste domingo (04), vamos acompanhar mais uma vez as autoridades religiosas do tempo de Jesus demonstrando resistência a Ele. Procuravam, de todo modo, apanhá-lo em uma armadilha jurídica ou religiosa. Vamos ver mais uma vez Jesus demonstrando sua total liberdade e ficando do lado dos mais fracos.

Alguns fariseus se aproximam de Jesus e perguntam se é permitido ao homem divorciar-se de sua mulher. Baseavam-se numa lei criada por Moisés. Os fariseus querem “pôr à prova” Jesus num assunto tão central como o matrimônio.

Jesus aceita o desafio e recorda o projeto original de Deus, que criou homem e mulher igualmente, sem dominações ou privilégios para os homens. Por isso o matrimônio é uma entrega total, duradoura que unifica o casal, “formam uma só carne”. E reafirma a indissolubilidade do matrimônio: “O que Deus uniu, o homem não separe”. Esclarece ainda que se Moisés criou a lei do divórcio foi devido à “dureza dos vossos corações”. A incapacidade de perdão e de reconciliação diz respeito a um coração duro. Com esta atitude Jesus acentua a igualdade de condição entre o homem e a mulher e protege a parte mais frágil. Não é uma questão de lei, mas do projeto de Deus.

A sós com seus discípulos, Jesus explica que o divórcio não faz parte do projeto ideal de Deus. Deus criou o homem e a mulher e os destinou à felicidade convidando-os a viverem em comunhão total um com o outro, dando-se um ao outro, partilhando a vida em todos os sentidos, unidos por um amor que é mais forte do que qualquer outro vínculo. O fracasso dessa relação não está previsto nesse projeto ideal de Deus. O amor dos esposos que se comprometem diante de Deus e da sociedade deve ser um amor eterno e indestrutível. O matrimônio foi elevado a Sacramento porque ele sinaliza o amor de Deus pela humanidade, o amor de Cristo por sua Igreja.

Deus sabia que não seria fácil para a humanidade viver este amor ideal, por isso Ele colocou ao nosso lado o Espírito Santo. Muitas vezes a sociedade de hoje coloca soluções fáceis para os conflitos e dificuldades, principalmente na vivência do matrimônio. O fracasso do casamento cristão não deveria ser considerado uma normalidade, mas uma situação extrema. O casal cristão deveria esforçar-se para realizar sua vocação de amor, procurando conhecer melhor um ao outro, não desistindo na primeira desavença. Por isso a Igreja sustenta a indissolubilidade do matrimônio como ideal do projeto de Deus.

Porém, quando acontece este desfecho final na vida de um casal, a comunidade cristã deve usar de compreensão e misericórdia, acolhendo, incluindo as pessoas na vida da comunidade sem discriminação ou julgamento. Aqui não se trata de renunciar ao ideal de Deus, mas de testemunhar a bondade e a misericórdia de Deus para com todos.

As crianças, símbolo de quem precisa de atenção e apoio para viver, chamam nossa atenção à confiança e entrega nas mãos de Deus. No Reino de Deus não há espaço para quem é autossuficiente, orgulhoso e arrogante. Quem está com Deus acolhe e escuta suas propostas e se coloca numa atitude de serviço aos irmãos.

Que todos os casais sintam a proximidade de Deus, sejam abençoados e fortaleçam seus laços de união celebrados no dia do seu casamento. Que a Eucaristia abençoe, renove e fortaleça sobretudo os vocacionados à vida matrimonial. Amém!

* O autor é bispo da Diocese de Toledo

revistacristorei@diocesetoledo.org

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