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Dom João Carlos Seneme

O Reino de Deus já está no meio de nós: vamos participar dele

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Há momentos na vida em que as esperanças individuais e coletivas parecem uma luzinha tênue. A história do mundo e também a pessoal parecem transcorrer em modo lento e fragmentado. Queremos que as coisas aconteçam de forma rápida. Hoje a liturgia da Palavra nos ajuda a olhar os acontecimentos de um outro ponto de vista. O tempo de Deus é diferente do nosso. Ele age silenciosamente e de forma permanente e contínua.

Jesus é o semeador da boa nova do Reino. As parábolas nos auxiliam a compreender o modo de Deus se manifestar. Da nossa parte cabe ouvir, acolher o viver que é anunciado. A força oculta do Reino de Deus vem até nós de graça. É preciso crer na semente da palavra, acompanhar sua maturação e confiar no futuro da colheita. É que nos propõe São Marcos que faz parte da liturgia deste 11º Domingo do Tempo Comum (Mc 4,26-34).

O Reino de Deus é o centro da vida e da pregação de Jesus. “O tempo se realizou e o Reino de Deus está próximo; convertei-vos e crede no Evangelho”. Este é o anúncio do jovem profeta de Nazaré a todos que encontra pelos caminhos e nas praças da Galileia. O Reino é a presença de Deus no meio da humanidade e é preciso olhos especiais para perceber que o Reino é Jesus. Não é uma questão de lugar físico, mas implica adesão ao projeto salvador que Jesus Cristo veio revelar. Por isso não há mais tempo a perder: é necessário tomar uma decisão. Quem não se envolve coloca em risco a própria salvação.

Para anunciar o Reino, Jesus vai utilizar de todos os meios que possam ajudar as pessoas a acolher esta boa notícia. Sua linguagem é própria de um homem do campo que conhece o modo de plantar, o tempo, a semente adequada e o cuidado que se deve ter para que a colheita seja boa. O objetivo é tornar compreensível a todos o conteúdo de sua vida e pregação, o Reino de Deus.
A parábola é um elemento típico do discurso de Jesus: sua compreensão não é imediata, é necessário utilizar comparações que estejam ao alcance de seus ouvintes. Deus respeita a liberdade das pessoas: a compreensão será luminosa para quem tem o coração aberto ao mistério; para quem tem o coração fechado permanecerá algo incompreensível e obscuro.
Hoje duas parábolas nos são apresentadas para comunicar que Deus já iniciou seu projeto.

A primeira parábola é a do grão que germina e cresce por si só. A parábola mostra a intervenção do agricultor apenas no ato de semear e no ato de colher. A questão essencial não é o que o agricultor faz, mas o dinamismo vital da semente. O resultado final não depende dos esforços e da habilidade do homem, mas, sim, do dinamismo da semente que foi lançada à terra.

A segunda parábola é a do grão de mostarda. O evangelista quer colocar em destaque o contraste entre a pequenez da semente e a grandeza da árvore. A comparação serve para dizer que a semente do Reino, lançada pelo anúncio de Jesus, está viva e atuante. Não importa o seu tamanho, ela quer atingir todos os povos e culturas.

A verdadeira fé consiste em colocar tudo nas mãos de Deus e confiar. A fé não se nutre dos próprios méritos e das obras realizadas pelo homem. Somos a participar do Reino praticando boas obras, mas quando a semente é jogada na terra, o futuro está nas mãos de Deus. Devemos aguardar os frutos e a colheita. A esperança é dom de Deus e ela nos ajuda a compreender que certos acontecimentos críticos de nossa vida escondem a sabedoria de Deus.

As duas parábolas querem despertar em nós a confiança em Deus. Somente Ele foi capaz de transformar aquela pequena comunidade de cristãos nesta árvore frondosa, onde muitos encontram abrigo e coragem para continuar a missão de Jesus.
O Reino de Deus não nasce já grande e vistoso; são essenciais atitudes de paciência e espera confiante, sem deixar de lado a ousadia e a coragem.

 

O autor é bispo da Diocese de Toledo
revistacristorei@diocesetoledo.org

 

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