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Dom João Carlos Seneme

O Senhor encheu-se de compaixão por ela e disse: “Não chores!”

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Os Evangelhos nos apresentam três narrações de ressurreições realizadas por Jesus: o do filho da viúva de Naim, o da filha do chefe da sinagoga, Jairo (cfr. Lc 8,40-42.49-56) e de seu amigo Lázaro (cf. Jo 11). A intenção destes acontecimentos é anunciar a Páscoa: Jesus é a vida mais forte do que a morte e veio ao mundo para conduzir todos à vida eterna e despertar a fé.

No evangelho de hoje se encontram dois grupos à entrada da cidade de Naim: o grupo que segue Jesus: seus discípulos e uma grande multidão desejosa de ouvir suas palavras; e o outro grupo que acompanha um enterro do filho único, filho de uma viúva. Jesus, o doador da vida, se encontra com a morte.

Jesus, então, toma a iniciativa e decide transformar o que pode parecer uma coincidência (o encontro dos dois grupos) em um encontro verdadeiro que mudará o sentido da vida de todos. Tudo começa dentro d’Ele: Ele sente compaixão pela dor insuportável desta mulher; Ele sofre junto com ela: “Ao vê-la, sentiu compaixão”. A compaixão não é uma forma de sentir piedade, mas é ouvir profundamente e acolher o outro no seu sofrimento, fazer-se próximo.

Jesus vai além deste sentimento e manifesta concretamente que Ele é autor da vida. Primeiramente diz uma palavra de consolação para aquela mãe: “Não chores”. Em seguida, se aproxima, toca o caixão e diz: “Jovem, eu te ordeno, levanta-te”. Elias, para ressuscitar o filho da viúva de Sarepta, precisou deitar-se três vezes sobre o corpo do menino e invocou Deus com insistência. Aqui Jesus apenas ordena uma vez, e sua palavra potente que exprime o agir de Deus transforma em realidade o que diz: “O morto se levantou e começou a falar”.

Como sempre, Jesus mostra que seu comportamento não é motivado por qualquer protagonismo. Imediatamente Ele realiza com determinação o que era necessário: devolver o filho à mãe, não reivindicar qualquer mérito ou acrescentar palavras desnecessárias. O seu gesto revela a sua identidade: Ele veio para dar a salvação de Deus aos homens, ou seja, a vida plena que a ressurreição anuncia. A multidão dá sinais que entendeu o que aconteceu naquele momento: conseguem associar a pessoa de Jesus a Deus que o enviou e em nome de quem Ele age. “Todos ficaram espantados e davam glória a Deus, dizendo: um grande profeta surgiu entre nós; Deus se preocupou com seu povo”.

Estamos distantes, no tempo e no espaço, deste acontecimento. No entanto, sabemos pela fé que a ressurreição deste jovem revela o que acontecerá conosco no dia de nossa salvação. Naquele dia, o Senhor se aproximará e “enxugará as lágrimas de nossos olhos”. É crendo que seremos salvos!

Este gesto de salvação acontece em todas as celebrações eucarísticas: Deus vem ao nosso encontro, manifesta a sua misericórdia, afirma que não abandonou a humanidade ao poder da morte: Deus enviou seu filho unigênito para que tenhamos vida em abundância. Aquele Jesus que um dia disse a um jovem morto “Eu te ordeno, levanta-te”, agora é como se estivesse à nossa frente e repetisse a todos nós as mesmas palavras: “Eu te ordeno, levanta-te”! “Quem come a minha carne e bebe meu sangue tem a vida eterna; e Eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6, 54).

 

 

Bispo da Diocese de Toledo

 

revistacristorei@diocesetoledo.org

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