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Editorial

Olha a BeijaFlor aí, bandido

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Duas escolas de samba do Rio de Janeiro, a campeã Beija-Flor e a Paraíso do Tuiuti, encantaram o Brasil ao desfilar a corrupção entre outros temas sociais na Sapucaí. O 14º título da escola de Nilópolis veio contada em uma história de corrupção e nos ataques a minorias, mostrando que políticos acabam com a vida das pessoas, com cenas fortes para um Carnaval, mas comuns no dia a dia do país. Um dos carros, o “prédio” da Petrobras aos poucos se transforma em uma favela, observada de perto por políticos com rostos cobertos, lembrando a farra do guardanapo protagonizada pelo hoje presidiário Sérgio Cabral, ex-governador do Rio.

Já a Tuiuti, que alcançou o ápice dento do grupo especial carioca – e a melhor colocação da história -, escancarou a rebeldia popular, falando da exploração do trabalho e dos direitos roubados dos brasileiros pelos políticos. Em uma das alas, um vampiro inspirado em Michel Temer manipulava manifestantes de verde e amarelo como se fossem fantoches. Em outro momento, os foliões carregavam uma grande carteira de trabalho avariada, demonstrando insatisfação com a recente reforma trabalhista aprovada no Congresso.

Polinizando com purpurina, plumas e paetês as mazelas que mais incomodam o brasileiro nos últimos anos – ou séculos -, elas conquistaram não somente a preferência dos jurados, mas o apoio de grande parte da população brasileira. Um grito carnavalesco que reflete o clamor das ruas. Cansados de sofrer por conta da corrupção e dos interesses privados em detrimento do público, quem esteve no sambódromo delirou com a passagem das duas escolas. Seus sambas ecoaram na boca do povo.

Nas redes sociais e até mesmo nos bastidores do Carnaval do Rio de Janeiro o assunto era o mesmo. Anônimos e famosos se misturavam na internet para reverenciar os desfiles escrachados e de uma realidade impecável do Brasil. De maneira natural, ganharam a simpatia das pessoas em todos os cantos do país, apenas mostrando de forma bem objetiva o que acontece depois da corrupção e da submissão.

O Carnaval é uma brincadeira, mas o recado que vem da Sapucaí neste ano é seriamente uma crítica direta aos malfeitores brasileiros, mostrando que a arte pode sensibilizar para problemas tão urgentes de serem solucionados no Brasil. Os sambas e as alegorias não só sensibilizaram, como venceram a competição e aglutinaram fãs, muito por conta do apelo a que se propuseram.

Obviamente que isso não quer dizer muita coisa num país em que a injustiça ainda impera quando os colarinhos brancos estão na mira. Não é um Carnaval que vai mudar a situação ética e moral desse país. Mas é um claro recado de que a sociedade, representada até mesmo por escolas de samba, não aguenta mais pagar o preço alto que os criminosos do poder impõem ao povo trabalhador. Olha a Beija-Flor aí, bandido. Que venha mais Sérgio Moro, mais Polícia Federal, mais Ministério Público e tudo que a realidade além do Carnaval permitir.

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