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Editorial

Os dois lados da história da bola

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“Ao terminar de jogar, favor guardar a bola no cesto”, diz a pequena placa. E assim, se passaram quase quatro meses e a bola de basquete disponibilizada para quem quiser praticar o esporte, exposta, sem cadeados ou trancas, permanece até hoje na praça central de Mercedes, ao lado da quadra de esportes aberta ao público.

Orgulhosa da população, a prefeita Cleci Loffi resolveu compartilhar a honestidade em suas redes sociais. Viralizou. Virou até história em revista de circulação nacional, e chamou a atenção da Confederação Brasileira de Basketball, que republicou a história em suas redes sociais.

Há duas situações que saltam aos olhos com tamanha repercussão do caso. A primeira nos deixa cheia de esperança, nos mostra que ainda ampla parte das pessoas é do bem, se preocupa com as coisas públicas, com o bem-estar dos cidadãos, sabem agir corretamente e estão necessariamente encharcadas de bons princípios, valores e respeito. São pessoas que se importam com o bem comum, são pessoas que cultivam atitudes que se aprendem ainda pequenininho. E o mundo está cheio delas, acredite.

Mas qual o motivo de tamanha repercussão, então, de um “mero” caso de honestidade? Isso espanta. Espanta porque esses milhões de bons estão rodeados de outros tantos que não são tão bons assim, não cultivam a empatia e sequer sabem o que é algo que não seja necessariamente em benefício próprio. Meu umbigo, minha vida. É o cara do jeitinho brasileiro, aquele que encontra a carteira e não devolve ao dono e que, na “vacilada” de alguém, furta-lhe uma bola de basquete. Há ainda os que pregam a honestidade, mas na primeira oportunidade se beneficiam injustamente.

O que deveria ser corriqueiro se tornou notícia. Certamente uma notícia de furtos de bolas de basquete não teria tamanha repercussão. Ou nenhuma, quiçá. Mas o “não furto” virou extraordinário. São os dois lados da história da bola.

Os bons exemplos estão por toda parte, como a própria prefeita Cleci publicou dias atrás em suas redes sociais. Ao encontrar Valdemiro Bruch, senhor de 84 anos que dedica seu tempo a limpar o lago municipal de Mercedes voluntariamente (contamos essa história aqui no Jornal O Presente), fez questão de parabenizar e compartilhar a boa iniciativa do mercedense, que todos os dias alimenta os peixes e arranca o inço que brota no gramado, sempre que necessário.

Os bons exemplos estão sempre por aí, mas são ofuscados pelas coisas ruins que cercam a humanidade. Infelizmente, terremotos, tiroteios, prisões de políticos, acidentes chamam mais atenção do grande público consumidor de informação do que uma plantação de rosas ou o projeto da escola que foi selecionado entre os melhores.

Mas há como mudar isso. A solução é uma via de mão dupla. A mídia pode contribuir, buscando e mostrando mais histórias como a da bola de basquete. Por outro, o leitor/internauta precisa querer consumir produtos de mais qualidade, que nos proponham reflexões importantes que deixamos de fazer ao longo da vida e que nos mostrem que fazer o bem é sempre a melhor escolha.

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