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Dom João Carlos Seneme

Os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos

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A humanidade sempre tentou definir Deus, dar forma ao seu rosto e delimitar sua ação salvífica. As leituras de hoje testemunham que Deus é totalmente Outro diferente de nós, Ele é pura alteridade e liberdade. Esta foi a experiência marcante do povo da Bíblia. “É para sermos verdadeiramente livres que Cristo nos libertou! Portanto, permanecei firmes e não vos sujeiteis outra vez ao jugo de escravidão” (Gálatas 5,1).

“Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o Senhor” (Isaías 55,8). Este texto nos dá a chave para ler e compreender em sua plenitude o conteúdo da liturgia de hoje. Podemos ir ainda mais longe: ele sublinha um dos erros básicos em nossa imaginação de Deus, a tendência em projetar em Deus os nossos sentimentos e ideias, nossa compreensão da vida e do mundo.

Jesus conta a parábola do patrão que sai em busca de trabalhadores, provavelmente, para responder às críticas dos adversários que o acusavam de estar demasiado próximo dos pecadores (os trabalhadores da última hora). Através dela, Jesus mostra que o amor do Pai se derrama sobre todos os seus filhos e filhas, sem exceção e por igual. Para Deus, não é decisiva a hora a que se respondeu ao seu apelo; o que é decisivo é que se tenha respondido ao seu convite para trabalhar na vinha do Reino. Para Deus, não há tratamento “especial” para aqueles que estão há mais tempo no processo de seguimento.

Muitos nasceram numa família de tradição religiosa e católica, outros se converterem em idade adulta e há aqueles que se deram conta da importância de Deus ao final de suas vidas. Para Deus sempre é possível assumir um caminho novo de salvação. Ele chama o tempo todo e se alguém ouvir e responder sim, este merece o seu amor e a sua salvação. De nossa parte deveríamos ficar felizes e não resmungar que temos mais direito. “Será que não tenho direito de fazer o que quero com o meu dinheiro”? É difícil entender o modo de agir de Deus, por isso nos cabe somente escutar o que Ele nos diz e obedecer adorá-lo e se convencer que Ele, diferente de nós, tem seu modo de agir e de pensar. Deveríamos ser-lhe gratos por isso.

Todos têm lugar na Igreja de Jesus. Não há trabalhadores de primeira e de segunda classe. O que há são homens e mulheres que ouviram e aceitaram o convite do Senhor – tarde ou cedo, não interessa – e foram trabalhar para a sua vinha. Na comunidade de Jesus, a idade, o tempo de serviço, a cor da pele, a posição social, a posição hierárquica, nada disso serve para fundamentar qualquer tipo de privilégios ou qualquer superioridade sobre os outros irmãos. Diante de Deus todos são iguais em dignidade e todos são acolhidos, amados e considerados de igual forma.

Nós, cristãos, não deveríamos agir por interesse, ou de olhos postos em recompensas (o céu, a sorte na vida, a eliminação da doença, ganhar na loteria). Deveríamos acolher o amor de Deus e seguir o ensinamento de Jesus para construir um mundo bom para todos. Quem segue o caminho de Jesus e vive em comunidade é feliz, encontra a paz e a serenidade e começa a viver o que nos aguarda no céu.

 

O autor é bispo da Diocese de Toledo

revistacristorei@diocesetoledo.org

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