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Silvana Nardello Nasihgil

Para a gente pensar… porque é preciso!

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No começo todas as relações são lindas. O outro sempre é perfeito ao ponto de conseguir se doar e se alimentar até daquilo que não possui. O tempo é contado de um jeito único, não tem mais dia ou noite, tudo vira possibilidade. Tudo é sim, porque é necessário agradar, independente de como se pensa ou se sente. E a vida vai seguindo…

Um pouco mais e novos pensamentos e atitudes, ou falta delas, serão adicionados à relação. O conto de fadas começa a se tornar real e as fadas vão embora. O que parecia tão perfeito mostra a sua cara. O que parecia tão perfeito e não deixava dúvidas começa a se desfazer deixando um gosto estranho no ar. É hora de olhar para a realidade, processar as verdades e buscar entender o que se está buscando.

Nessa fase se faz necessário ter maturidade para compreender que não somos perfeitos e que se quisermos uma história de verdade, precisamos ser de verdade, olhar o outro como ele é e mostrarmos o que somos com toda a transparência.

O tempo passa e começa uma nova fase…

Vem o desleixo, o excesso de intimidade vai tomando corpo e vai deixando no caminho as melhores coisas da relação. E na grande maioria das vezes se começa só a esperar, ao invés de agir.

Que coisa feia essa nossa mania de esperar sermos amados, de nos deleitarmos quando recebemos amor, de nos fartarmos do bem-estar que ele nos faz, chegando muitas vezes a abusar da fragilidade em que esse sentimento coloca o outro ao nosso lado.

Sem muito pensar a respeito, esquecemos que o amor requer doação, partilha, escuta, acolhimento, parceria… Que o amor é exigente e precisa de reciprocidade para continuar a existir.

Nessa fase de esperar que o outro venha alimentar nossos desejos, carências e faltas de toda natureza, é quando o amor começa a ser sacrificado, quando o amor começa a deixar de ser amor para se transformar em egoísmo… é quando o amor começa a morrer.

Tão lindo seria se a gente não esquecesse nenhum dia que ao conquistar um coração vem com ele um ser humano, alguém que se dispõe a dividir uma história de vida, alguém que está se comprometendo em aceitar um novo jeito de viver, partilhando todo o novo que virá.

Não importa se seremos silenciosos ou ruidosos, o amor recebido vem como bálsamo para embalar a nossa vida. E, feito o sono da manhã, a gente se vira, se ajeita e sorve o bem-estar que está na sensação de sermos amados. E então… a gente sempre quer mais!

Quando essa sensação incrível se instalar é hora de voltar o olhar para o outro e buscar saber o que estamos devolvendo, onde estamos tocando, o quanto nos importamos, o quanto sabemos dizer que o outro é especial, o quanto o admiramos, percebemos o que faz, elogiamos o jeito, o cheiro, aquilo tudo que um dia deu espaço para nos apaixonarmos e permitiu que isso se tornasse amor.

Se não aprendermos a alimentar os sentimentos com as pequenas coisas do dia a dia, fatalmente eles sucumbirão. Somos humanos e na quase totalidade buscamos ser amados, e, por sermos humanos também, ao nos sentirmos amados, esquecemos que para esse sentimento continuar vivo e crescer precisamos ser parte atuante, buscando lutar com o outro pelos mesmos objetivos, comungando dos mesmos sonhos.

Se deixarmos a vida ir acontecendo sem dedicação, seremos meros espectadores, aproveitando do envolvimento do outro para buscar alimentar aquilo que, se não houver reciprocidade, sucumbirá!

 

Silvana Nardello Nasihgil é psicóloga clínica (CRP – 08/21393)

silnn.adv@gmail.com

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